Biossensores: detecção de analitos bioquimicos

por | set 29, 2020

  Com o surgimento da necessidade de métodos de detecção mais acessíveis, nos últimos anos, inúmeros grupos de pesquisa direcionaram seus esforços para o desenvolvimento de biossensores. Esses sensores são dispositivos capazes de reconhecer determinados elementos através de componentes bioquímicos que promovem uma interação analíto-alvo de forma altamente seletiva. Esse reconhecimento pode se dar de duas formas; direta ou indireta. Na forma direta a resposta bioquímica é medida de forma direta pela interação do componente bioquímico com o analíto, sem a necessidade de um componente catalítico ou marcadores de fluorescência. Já na forma indireta, existe a necessidade de um anticorpo marcado com fluorescência ou do produto de uma reação enzimática para que seja realizada a medição da resposta bioquímica.

Os componentes básicos de um biossensor são; o local de introdução da amostra, o componente bioquímico responsável pelo reconhecimento molecular, o transdutor e a unidade processadora do sinal. O local de introdução da amostra pode ser por injeção de fluxo ou por canais microfluídicos.  Entre os componentes bioquímicos mais utilizados estão os anticorpos, receptores de membrana, ácidos nucléicos e aptâmeros. O transdutor e a unidade processual estão relacionados com a interpretação do resultado obtido. Nanomateriais como nanopartículas de ouro coloidal podem ser utilizados para expor de forma visível o resultado do teste, descartando assim a necessidade de utilização da unidade processual.

Os biossensores podem ser classificados de acordo com a interação entre os seus componentes bioquímicos, os quais podem ser biomoléculas ou receptores modelados a partir de um sistema bioquímico. Entre as interações mais comuns tem-se anticorpo / antígeno, ácidos nucleicos / sondas de DNA, enzimas / ligantes e receptores celulares / células.

O ensaio de fluxo lateral, chamado de teste sorológico, utilizado para detecção da COVID-19 pode ser classificado como biossensor de reconhecimento direto pela interação antígeno/anticorpo. Em biossensores do tipo ensaio de fluxo lateral os componentes bioquímicos de reconhecimento são fixados em uma base composta por uma sobreposição de membranas. Diferentes componentes podem ser selecionados para a montagem da fita teste. O exemplo da figura 1 ilustra um ensaio de fluxo lateral baseado na detecção da presença anticorpos anti - Sars-Cov-2 capazes de reconhecer a proteína S que faz parte da composição da “coroa” do vírus (figura 2).

Neste ensaio a amostra de sangue contendo os anticorpos anti – proteína S (resultantes de um contato prévio do hospedeiro com o vírus) é aplicada na área de aplicação da amostra (1), onde segue até a proteína S conjugada ao ouro coloidal (AUNPs) fixada na membrana de nitrocelulose (2). O complexo Proteína S-AUNPs-Anticorpo (3) segue até a área de detecção onde está imobilizado o anticorpo anti-IgG humano, a qual se liga ao complexo formando uma faixa vermelha (coloração em função do AUNPs) que indica o resultado positivo do teste (4). As proteínas conjugadas que não se ligam aos anticorpos anti - IgG humano seguem o fluxo até a linha controle que possui anticorpos anti-proteína S imobilizados,  a ligação desses anticorpos nas proteínas resulta em uma nova marcação de coloração vermelha e consequente confirmação de que a amostra percorreu toda a fita (5). A membrana absorvente no final da fita tem a função de garantir que a amostra atravesse a fita toda por efeito de capilaridade (6).

Figura 1 - Representação esquemática da montagem pela sobreposição das membranas e os principais componentes do ensaio de fluxo lateral para detecção de anticorpos anti - proteína S Sars-CoV-2
Fonte: Adaptado de MIKAWA et al., 2009.

Figura  2 – Estrutura do Sars-Cov-2 para destacar a localização da proteína S utilizada no biossensor apresentado na figura 1. Fonte: https://www.news-medical.net/health/How-Does-the-SARS-Virus-Genome-Compare-to-Other-Viruses.aspx. Acesso em: 25/09/2020

Os componentes do ensaio de fluxo lateral podem ser alterados e adaptados para tornarem o ensaio mais sensível, estável e prático. Os anticorpos podem ser trocados por aptâmeros, que são oligonucleotídeos que ao assumirem uma estrutura secundária são capazes de reconhecer e se ligarem a moléculas de interesse. O ouro coloidal também pode ser substituído por látex ou nanotubos de carbono.

Em relação a aplicabilidade, biossensores podem ser utilizados para o monitoramento da glicose em pacientes com diabetes (uma prática bem comum), detecção de metais pesados em águas contaminadas, detecção de patógenos, determinação de resíduos de antibióticos, detecção de micotoxinas, determinação analítica da concentração de moléculas como ácido fólico, vitamina B12 e biotina, detecção de resíduos de  pesticidas, entre outros. Modificações na estrutura de alguns biossensores possibilitam ainda a inativação da molécula alvo.

 

 

Referências

Calil S. S.;Silva P. R. Q. (2011) “Biossensores: estrutura, funcionamento e aplicabilidade,” pp. 1– 20. Disponível em: http://www.cpgls.ucg.br. Acesso em: 25/09/2020

Guatimosim, Paula (2020). “Proteína S do coronavírus abre perspectiva para teste mais eficaz, terapia e vacina”. FAPERJ. Disponível em: http://www.faperj.br/?id=4018.2.2. Acesso em: 25/09/2020

Koczula, K.M., & Gallotta, A. (2016). Lateral flow assays. Essays in Biochemistry, 60(1), 111-120. doi: 10.1042/EBC20150012

Lambrianou, A. et al. (2008). “Protein Engineering and Electrochemical Biosensors”. Advances in Biochemical Engineering / Biotechnology. 109. pp.65–96. doi: 10.1007/10_2007_080

Mikawa, A. Y. et al. (2009). ‘Development of a rapid one-step immunochromatographic assay for HCV core antigen detection’, Journal of Virological Methods, 158(1–2), pp. 160–164. doi: 10.1016/j.jviromet.2009.02.013.

Vo-Dinh, T .; Cullum, B. (2000). "Biossensores e biochips: Avanços nos diagnósticos biológicos e médicos", 'Journal of Analytical Chemistry . 366 (6–7): pp. 540–551. doi : 10.1007 / s002160051549 .

Autor: Jeniffer Martins, graduanda de Bioquímica da Universidade Federal de Viçosa e membro da Polimerize - Empresa Júnior de Bioquímica da UFV

E-mail: jeniffermartins14@gmail.com

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