Formação universitária e carreira: Deixa a vida me levar? Será?

por | ago 21, 2016

 

Hoje reproduziremos, com consentimento do autor, um excelente texto recentemente publicado no Pulse-Linkedin. Wilson Araujo é Bacharel em Química pelo Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos, mestre em Química Analítica pela USP e doutor em engenharia química pela Unicamp. Atuou nos setores de P&D de empresas como Cutrale, Cargill, Symrise e foi gerente senior da área de biotecnologia industrial da DuPont.

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“Estou terminando o meu doutorado e já adiantando meu projeto de postdoc, mercado esta difícil”. “Estou aguardando a análise para meu projeto nº (x+1) de postdoc”. “Não pretendo ir para a indústria, eles não fazem pesquisa”. “Eu realmente quero seguir uma carreira acadêmica”. “Voltei para academia, em minha empreitada na indústria não estava atuando com ciência”. “Esta difícil trabalhar na universidade com a escassez de recursos”. “Conseguirei uma posição rapidamente. Fui bolsista em um programa internacional do governo federal em uma renomada universidade estrangeira”. “Sou formado em uma faculdade de “segunda linha”, será difícil conseguir algo em uma grande empresa”. Esta última merece um breve comentário, simplesmente afirmar que todas as públicas estão no tal pelotão de primeira linha é um erro – isso para manter o jargão dos profissionais de recursos humanos.
De volta as frases carregadas de incertezas, elas estão entre as que já ouvi e estou certo de que muitos colegas ouviram outras tantas na arena acadêmica durante sua formação, orientando alunos ou apoiando membros de seus times no ambiente corporativo. Se já existisse o recurso de “download” para pensamentos e pudéssemos analisar o conteúdo de tal arquivo, teríamos uma melhor aproximação da complexidade e razões das decisões, alegrias, manhas e frustrações destes aspirantes a profissionais de carreiras brilhantes. Qualquer que fosse o resultado da análise, futurista “Singularity” de Ray Kurzweil ou usando métodos atuais da psicologia, não creio ser adequado julgar, indivíduos têm bagagens diferentes que os levam a direcionar seus caminhos de maneiras diferentes. Porém, não posso acreditar que todo o contingente de técnicos e cientistas sendo formados em nossas universidades realmente queira a carreira acadêmica ou técnica ortodoxa com escopo estreito e profundo – valioso para qualquer país com vocação tecnológica. Também seria simplista demais pensar que todos sendo produtos de um mesmo processo, que padroniza a formação, garantiria o desempenho satisfatório nas organizações, ainda que sejam instituições de renome. Em tempos de olimpíadas diria que a chancela da formação equivaleria a somente uma parte da preparação para participar de uma seletiva para os jogos.

Seja na universidade ou no ambiente corporativo, há de se ter clareza quanto a requisitos das posições, fraquezas e fortalezas a serem trabalhadas para conseguir a posição alvo. Não há receita universal para a carreira bem sucedida ou mesmo descritivo único, há sem dúvida exemplos de profissionais com carreiras consolidadas – cujas lições são úteis e talvez tenham cada vez menor peso com as mudanças rápidas ocorrendo nas organizações. Há ainda dinâmicas institucionais conhecidas (valores corporativos, missão, etc) que podem estar sendo negligenciadas no processo decisório do candidato – isso quando há um “pensar e planejar carreira” por parte do profissional recém fechando seu ciclo de formação. Sejamos francos, não fazer nenhum planejamento e simplesmente assumir que encontrará a mesma dinâmica institucional e/ou rotina de seu projeto de mestrado ou doutorado no próximo desafio parece, no mínimo, ingenuidade. Conhecer de forma profunda a abrangência de sua formação, ser capaz de manter ativa sua visão periférica (expandir as possibilidades- aprender na trincheira) e com isso interagir efetivamente no ambiente corporativo multidisciplinar penso ser de grande relevância na construção de carreira. A capacidade de adaptação ao novo ambiente, aspectos comportamentais e consciência de quais devem ser suas entregas são parte deste pacote, tópicos válidos também no processo de análise para decidir sobre uma oportunidade de emprego. Sendo assim, creio que parte das causas de reclamações, lamentações, vitimização de profissionais interessados em construir carreira em pesquisa e desenvolvimento ou que se percebam como tal por um período de suas carreiras passa por limitações em olhar criticamente o todo negócio/projeto onde querem atuar e como poderiam agregar valor ou mesmo se há algo essencial em seus requisitos/planos que tal empresa/projeto não atenda. Para alguns, após ingressar na organização, há a dificuldade de praticar o desapego parcial ou total de sua formação original e absorver novos conhecimentos para ampliar suas possibilidades de crescimento - talvez gerenciando projetos de pesquisa e não mais atuando como o "mentor científico ou técnico" de um projeto ou quem sabe como suporte valioso para equipes de marketing e vendas. Nenhum problema em não querer esta dinâmica para sua carreira, somente perceba rápido qualquer conflito e ajuste a rota conforme seus planos.

Há uma fração destes profissionais interessados em atuar nas mais diversas áreas e também uma parte dela que pode não ter percebido que carreira é uma “molécula” oriunda de um processo de “fermentação” que requer tempo para atingir a concentração “ideal” para posterior “extração e purificação”. Me atrevo a distorcer um ditado árabe, “quem planta tâmaras colhe sim tâmaras” no devido tempo para nossa analogia. Encorajo o pensamento de longo prazo com execução disciplinada e atenção as mudanças no ambiente de atuação para capturar eventuais necessidades de ajuste ou mesmo aborto de rota. A percepção de que uma “fast-track career” é para todos pode ser efeito de uma aparente distorção de mercado onde a “juniorização” de cargos, que antes requeriam “senioridade”, tem ocorrido potencialmente por contenção de custos nas organizações.
Penso que neste cenário há grandes chances de resultados não serem entregues ou serem entregues com entropia altíssima e ineficiência econômica. Na academia ou indústria, vale o quão efetivo o profissional é em suas entregas de resultados - com todas as questões comportamentais requeridas a sobrevivência e evolução na instituição. As organizações não costumam demorar a agir em busca de correções de rota rumo a resultados positivos.
Aqueles que fisgarem uma oportunidade neste contexto “fast-track career” serão forjados com grande carga de “stress”, diria que com potencialização dos efeitos devido a experiência limitada. Em tempo, indivíduos diferentes, maneiras diferentes de lidar com o “stress”, eventual processo de acompanhamento formal por executivo senior pode atenuar tais turbulências com a alavancagem da curva de aprendizado. Quanto aos resultados, só o tempo irá dizer. Por fim, manter a visão periférica ativa, entender qual o seu plano e avaliar em quais organizações gostaria de colocá-lo em prática é primordial. Dica? Olhe além dos logos - busque mais que isso - procure falar com pessoas que trabalharam e trabalham por lá, cruze sua sondagem com seus planos, pondere sua decisão. Em tempo, há casos em que a situação econômica do país acaba sendo o propulsor da decisão por falta de escolha. Porém, isso não é um motivo para você não ter um plano de carreira.

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O movimento Bioquímica Brasil foi fundado em 2014 por egressos e estudantes dos cursos de Bioquímica.

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