O Bioquímico no controle de qualidade de laticínios

por | ago 7, 2016

A Fabiana Paula Pereira é Bioquímica pela UFSJ (2009-2012), mestre em Biotecnologia pela UFSJ (2013-2015) e atualmente trabalha na Laticínios LUCE LTDAR.
- Fabiana, você pode nos contar um pouco de sua trajetória acadêmica e profissional?
Bem, iniciei o curso de Bioquímica na UFSJ em 2009, fazendo parte da segunda turma. A faculdade e o curso, em especial, ainda eram muito novos, o que fez muitas pessoas desistirem. Porém, mesmo com mais perspectivas que certezas decidi continuar. No terceiro período iniciei a iniciação científica, o que me incentivou muito durante a graduação, pois assim colocamos em prática o que aprendemos na teoria e, além disso, é uma forma de te direcionar para uma área mais especifica e a qual você mais se identifica. Desenvolvi projetos relacionados à biotecnologia ambiental e industrial até o final do curso. Participei também de projetos de extensão, congressos e organização de jornadas, os quais contribuíram para minha decisão de entrar no mestrado. Assim que conclui o curso de graduação, iniciei o mestrado em Biotecnologia na mesma instituição, na área de Microbiologia aplicada à Saúde. Após o término do mestrado resolvi não seguir de imediato com o doutorado, pois sentia falta de uma experiência profissional para complementar o currículo. Então, distribui currículos em diversos setores, após algum tempo surgiu a oportunidade de ingressar no mercado de trabalho como Analista de Laboratório no Laticínios LUCE.
- Como surgiu esta oportunidade de emprego para você? Você fez estagio nessa área antes, enviou e-mail diretamente para eles, contou com algum recrutador ou indicação de professores/amigos?
Não fiz estágio durante a graduação, pois como fiz iniciação desde o terceiro período, utilizei o projeto como trabalho de conclusão de curso (TCC). Esta é uma falha que percebo no curso de Bioquímica, independente se fizemos ou não iniciação, o estágio é fundamental para decisão final do aluno. E não há como decidir corretamente se você não obtém as duas experiências, tanto acadêmica quanto no mercado de trabalho. Como o estágio não é obrigatório*, muitos optam pelo TCC relacionado à iniciação científica. Após o mestrado decidi procurar emprego e comecei a distribuir currículos em diversos locais, tanto pessoalmente quanto através de sites. Fiquei sete meses à procura de um emprego, e como sou muito ansiosa comecei a trabalhar em outra área. Acredito que por não possuir estágio demorei mais para conseguir um emprego. No Laticínios em específico, eu enviei currículo através de uma funcionária para entregar no RH, pois a empresa reside fora da cidade e há transporte apenas nas trocas de turnos. Após três meses, fui chamada para uma entrevista via Skype, pois morava em Divinópolis, e contratada no mês posterior.
 - Como você aplica seus conhecimentos da graduação em Bioquímica no seu trabalho?
Quando iniciei no laboratório não conhecia todos os métodos e procedimentos os quais utilizavam, porém como o curso de Bioquímica tem diversas aulas práticas, não obtive dificuldade para executá-los seguindo os protocolos. Havia poucas vidrarias e equipamentos que desconhecia e não havia utilizado, mas em pouco tempo adquiri as práticas. Além de tudo o curso nos dá uma boa base teórica para diversas áreas, além de nos incentivar a sempre buscar conhecimento quando necessário. No laticínio executo tarefas relacionadas ao físico-químico e microbiologia, desde a matéria prima ao produto acabado. No quesito teoria, como trabalhei durante a graduação com fermentações, auxilio na pesquisa e desenvolvimento de produtos fabricados na empresa, uma vez que a fermentação é uma etapa fundamental no processo de produção da bebida láctea e qualquer alteração pode influenciar bioquimicamente ou não o processo fermentativo.
- No que difere o ambiente de trabalho numa indústria para o ambiente de trabalho acadêmico?
O diferencial na indústria é se adaptar a rotina e reagir da melhor maneira diante de algum problema. Como meu próprio coordenador diz 80% é rotina e 20% resolução de problemas. Quando você chega à empresa existem tarefas a cumprir e a rapidez e eficácia nos procedimentos é fundamental, bem como as decisões certas quando há alguma anormalidade. Sempre pode acontecer algo inesperado que atrapalhe o seu cronograma, mas devemos estar preparados para saber lhe dar com a situação, saber colocar prioridades em determinadas atividades. Acredito que quando fazemos iniciação científica temos uma base de como isso ocorre, porém dentro de uma indústria a necessidade por resultados dentro do padrão é maior, para que a garantia da qualidade seja cumprida. Querendo ou não a pressão pela dentro de uma empresa privada é maior que no setor público, uma vez que uma decisão errada ou algum resultado alterado influencia diretamente a produção de algum produto, logo, pode ocasionar perdas, principalmente econômicas. Ou seja, o ambiente de trabalho de uma indústria é diferente de um laboratório de iniciação, no caso da faculdade, e essa experiência só se adquire vivenciando.
- O que te fez abrir os olhos para a área industrial e não seguir carreira acadêmica?
Na verdade eu não descartei a possibilidade de seguir carreira acadêmica, pois é algo que gosto e espero um dia poder praticar. Fiz mestrado pensando na possibilidade de seguir carreira acadêmica, porém sentia necessidade de adquirir uma experiência prática fora da universidade e é algo que conta muito no currículo, principalmente quando se busca carreira acadêmica em universidades privadas. Percebi ao distribuir currículos em faculdades, que os coordenadores buscam professores que além da formação, tenham experiência profissional para poder repassar aos alunos. Nem todo aluno tem perfil acadêmico, pelo contrário, a maioria irá para o mercado de trabalho, seja industrial ou não, e como eu disse na pergunta anterior, essa experiência só se adquire vivenciando. E quando o conhecimento teórico pode ser repassado juntamente com o conhecimento prático para o aluno é melhor e mais interessante.
- Que características você acha que o bioquímico deve desenvolver para trabalhar em indústrias?
O curso de bioquímica tem uma grande vantagem que é ser multidisciplinar, ou seja, o discente pode optar por diferentes áreas em diferentes setores. O que o graduando em Bioquímica precisa é realmente fazer o estágio. O estágio deveria ser obrigatório e não apenas uma carga horária a se cumprir, o ideal seriam dois ou mais em áreas diferentes, pois assim o aluno irá verificar de qual área realmente gosta e se adapta melhor. Além disso, o mercado de trabalho precisa conhecer o bacharel em bioquímica, muitas vezes não contrata o profissional em bioquímica, pois acredita que é um farmacêutico. E isso prejudica o próprio curso, pois o curso direciona muito os alunos a seguirem carreira acadêmica e repito, não são todas as pessoas que tem esse perfil. Infelizmente nas universidades públicas, não podemos ser apenas pesquisadores, mas devemos também ser professores. E acredito que todo aluno pode parar e pensar em algum professor que tem grande conhecimento teórico mas não consegue passar com clareza, a didática é algo que se deve gostar e sempre aprimorar. Então, em minha opinião o bioquímico deveria desenvolver esse lado industrial independente da área, para que possa decidir melhor o que fazer profissionalmente.
- Que disciplinas você acha importantes o bioquímico cursar para atuar na indústria de alimentos? Você pensa que alguma alteração na grade de disciplinas poderia favorecer a atuação do Bioquímico na indústria?
Cada curso de bioquímica tem um direcionamento nas três instituições, no campus de Divinópolis, a área mais forte é voltada para a Saúde, principalmente pelos cursos ali presentes. Entretanto, o curso em bioquímica é multidisciplinar, logo, quem gosta de outra área pode seguir também. Existem diversas disciplinas que são aproveitadas na indústria de alimentos, disciplinas como bioquímica, microbiologia, química orgânica e inorgânica, físico química, entre outras, são matérias que podem ser utilizadas em diversos setores industriais. O que alteraria na grade curricular do curso de bioquímica seria o acréscimo dos estágios e torná-los obrigatórios. Poderia haver também disciplinas como Controle de Qualidade e uma mais geral como ciência dos alimentos, que envolveriam todos os setores alimentícios e não somente laticínios. A disciplina de controle de qualidade seria interessante, pois não envolve apenas alimentos e sim todos os setores industriais. Mas a meu ver, o bioquímico tem capacidade de se desenvolver bem em um laboratório desse porte, apenas deve adquirir prática e estudos adicionais quando necessário.
- Com relação a sua experiência, que conselho daria aos futuros Bioquímicos?
Façam iniciação, participem de congressos, organizações de eventos, publiquem seus trabalhos, façam network, que é fundamental para qualquer profissional. Mas não se esqueçam que existe um mundo além da faculdade e boa parte de vocês irão ingressar nele. Portanto, ingressem em estágios também, se possível mais de um em áreas diferentes, para vocês saberem o que é trabalhar fora da universidade. Não é fácil, muitas vezes é estressante e há pressão sim e os horários industriais nem sempre são os melhores, mas o crescimento pessoal e profissional é indiscutível. Só obtemos uma visão crítica das nossas oportunidades quando tentamos todas ou boa parte delas. Experiência tanto profissional como acadêmica são importantes não somente para nós como também para os futuros bioquímicos, pois o curso precisa ser divulgado através do nosso trabalho. Como o curso é novo, somos nós quem irá mostrar ao mercado de trabalho o que um bioquímico pode ou não fazer. Desejo a todos que saibam fazer a melhor escolha de acordo com o seu perfil e possam ter um futuro brilhante.
Se gostou dessa entrevistas, você deverá também gostar de:
* Nota do Editor : A UEM tem estágio obrigatório no último semestre da graduação, onde se busca um primeiro contato do bioquímico com a indústria.

Compartilhe este artigo:

Bioquímica Brasil

O movimento Bioquímica Brasil foi fundado em 2014 por egressos e estudantes dos cursos de Bioquímica.

bioquimicabr@gmail.com

Bioquímica Brasil

O movimento Bioquímica Brasil foi fundado em 2014 por egressos e estudantes dos cursos de Bioquímica.

bioquimicabr@gmail.com

0 comentários

Enviar um comentário

REDES SOCIAIS & CONTATO

FACEBOOK LINKEDIN INSTAGRAM

bioquimicabr@gmail.com

FACEBOOK
LINKEDIN
INSTAGRAM

bioquimicabr@gmail.com

Bioquímica Brasil ©. Divulgando a ciência Bioquímica desde 2014!