Produção e Processos Bioindustriais: Estágio em Papel e Celulose na Suzano

por | dez 1, 2015

A Juliana Barbosa Coitinho Gonçalves, Bioquímica pela UFV, Mestre e Doutora em Bioquímica e Imunologia pela UFMG, realizou estágio em empresa multinacional do ramo de papel e celulose. Atualmente é professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
- (Bioquímica Brasil) Juliana, você poderia fazer uma breve descrição da empresa na qual realizou seu estágio e das atividades desenvolvidas por você?
(Juliana) A Suzano Papel e Celulose é uma das maiores produtoras de papel e celulose da América Latina. Meu estágio foi na unidade de Mucuri, Bahia, que possui atividades de cultivo de eucalipto e produção de papel e celulose. A empresa conta com 8 mil colaboradores próprios, 11 mil prestadores de serviços em seis unidades industriais localizadas em São Paulo, Bahia e Maranhão; tem presença em mais de 130 municípios com a base florestal, escritórios comerciais na China, Estados Unidos, Suíça, Inglaterra e Argentina; além de laboratórios de pesquisa em biotecnologia em Israel, China e Brasil (Informações no site http://www.suzano.com.br). Nesse estágio, que ocorreu nos meses de janeiro e fevereiro de 2004, realizei atividades principalmente na área de controle de qualidade. Quando cheguei fui acompanhada por um funcionário, graduado em Química, e, posteriormente, como ele entrou em férias, assumi as atividades que ele realizava: análises físico-químicas (metais, sólidos, etc) de água industrial, água potável, massa celulósica das máquinas de papel, efluentes e do rio no qual é feita a captação de água e o lançamento do efluente da empresa. Os resultados eram registrados em um sistema onde os gerentes de produção tinham acesso, obviamente para, em caso de qualquer alteração, tomar as medidas necessárias. Além disso, apesar de não ter sido campo do meu estágio, durante a apresentação da empresa foi informado que ela possuía uma área de Pesquisa e Desenvolvimento, que trabalhava no estudo/ melhoria do eucalipto utilizado pela fábrica e na busca de novos e melhores produtos (celulose e papel).
- Como os conhecimentos aprendidos na graduação estavam presentes no estágio ?
As atividades desenvolvidas não eram complexas, todas possuíam protocolos padrão já estabelecidos e que deveriam ser seguidos, como forma de controle de qualidade das análises realizadas. Toda minha formação em Química (Geral, Orgânica, Analítica) e Bioquímica foi importante para que essas atividades fossem realizadas com a qualidade necessária. Acredito que, uma vez na empresa, não mais como estagiário de dois meses, nossa formação possa ser ainda mais útil não apenas para seguir protocolos, mas para sugerir melhorias e propor novos e melhores métodos, principalmente se o estágio for na área de Biotecnologia.
 - A opção por fazer um estágio fora da área acadêmica foi algo que sempre esteve claro para você durante o curso de graduação, ou houve alguma motivação especial para que você tomasse a decisão de fazê-lo?
Na minha época não era claro, ou seja, não fui instruída diretamente pelo curso nesse sentido, até porque esse estágio foi realizado antes do período demarcado para estágios (períodos finais do curso, na minha época). A motivação veio pelo fato de eu fazer iniciação científica no Laboratório de Celulose e Papel/Análises Ambientais da UFV. No entanto, não acho que isso seja um problema, visto que a própria Universidade possui um sistema de estágios/convênios muito bem organizado, o que facilita muito esse contato com empresas e outros locais para a realização de estágios. Bastando o interesse do aluno em procurar essa formação além da Universidade.
- Como surgiu esta oportunidade de estágio? Você correu atrás ou a universidade forneceu o contato?
Eu fazia iniciação científica, naquela época, no Laboratório de Celulose e Papel/Análises Ambientais da UFV. Vários alunos desse laboratório faziam esse tipo de estágio na Suzano e em outras fábricas de celulose e papel. Esse Laboratório possuía convênio com a empresa e, se não me engano, foi por meio desse convênio que eu e outros alunos fomos para esse estágio. De qualquer modo, a empresa possui um programa de estágios com processo seletivo para diversos cursos de graduação. O nosso curso de Bioquímica não consta na lista, mas termos perfil compatível, principalmente com a área de Biotecnologia, onde a empresa desenvolve as seguintes atividades:
  • pesquisa e desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas para aumentar a produtividade, qualidade e proteger as florestas de ataques de pragas, doenças e efeitos das mudanças climáticas;
  • uso de lignina para substituição de químicos do petróleo por uma fonte renovável, que pode ser utilizada em resinas fenólicas, espuma PV, termoplásticos, dispersante para cimentos, borrachas e dentre outros;
  • utilização de fibra curta para produção de fluff, um tipo de celulose usado em fraldas e absorventes.
Todas essas informações eu encontrei no site da Suzano, que informa sobre o processo seletivo/vagas para estágio remunerado.
- Percebe vantagens e/ou desvantagens de se ter a formação superior em Bioquímica para atuação profissional no ramo de papel e celulose? Alguma alteração na grade de disciplinas poderia favorecer a atuação do Bioquímico em papel e celulose (com base na grade da UFV)?
A vantagem é a nossa formação ampla e de qualidade, fato que nos torna aptos a atuar em várias áreas, inclusive no ramo de papel e celulose. Na minha época, a grade curricular não contemplava nada relacionado especificamente com isso, mas a possibilidade de fazer disciplinas optativas existe. Acho que tudo vai do interesse pessoal do aluno e da perspectiva que ele tem sobre o que irá fazer depois de formado. Como fazemos disciplinas básicas em diversas áreas: Cálculo, Física, Química, Biologia, etc, isso nos capacita a optarmos por uma gama grande de disciplinas mais específicas. Acredito que deve ser difícil tomar uma decisão de seguir para uma área específica como graduando, visto que isso requer uma maturidade que muitas vezes não temos (eu pelo menos não tinha). Talvez nesse ponto, a presença de um orientador de estágios/iniciação científica seja bastante útil. Acho que o mercado tem campo para nós com a formação que nós temos (ou com poucas modificações que podem ser feitas com optativas). O que falta é mais gente saber que existimos, conhecer nossa grade.
- O que te motivou a retornar à academia para os cursos de pós-graduação?
Acredito na atuação do bioquímico na indústria e que, com nossa formação, possamos ser profissionais muito valorizados, basta que as empresas saibam mais sobre nossa existência e da nossa grade. A mudança da área industrial para o retorno à área acadêmica, naquela época, ocorreu depois que fui a um Congresso da Sociedade Brasileira de Bioquímica – SBBq e vi muitas pessoas trabalhando com pesquisa ligada à Bioquímica Básica. Isso me encantou, me fez sentir mais próxima do que eu realmente almejava e gostava dentro da Bioquímica, e assim, tomei coragem para buscar um novo estágio/iniciação científica com o Prof. Sebastião na área da Enzimologia. Hoje, com olhos mais maduros, vejo que essa mudança foi também por motivos pessoais, talvez, ideológicos. Eu acredito mais na minha contribuição para a sociedade dentro da academia, lecionando e fazendo pesquisa. Acho que devemos viver não apenas para satisfazer nossos interesses pessoais, mas também, para trazer algo de melhor para a sociedade e não sei se eu estaria plenamente realizada, tendo isso em mente, dentro de uma empresa.
- Com relação a sua experiência, que conselho daria aos futuros Bioquímicos?
Todos nós temos que achar uma profissão que sustente nossos desejos pessoais e, também nossas necessidades financeiras. Por isso, aconselho que os futuros bioquímicos tenham em mente que eles devem buscar oportunidades novas, seja na área acadêmica ou industrial (fora da Universidade), e fazer o melhor que puder, ser o mais dedicado, o mais proativo dentro dessa escolha. E, uma vez não plenamente satisfeito com certa escolha, buscar outras oportunidades. As nossas vontades mudam, os nossos caminhos também. Mas acredito que sempre haverá espaço para quem é verdadeiramente bom naquilo que faz. Não sei se sirvo de exemplo para ninguém, mas um fato é que eu não tenho medo da mudança e sempre tento me adaptar a uma nova situação tirando o melhor de cada uma. Fui muito feliz e aprendi muito no Laboratório de Celulose e Papel, assim como no Laboratório de Análises Enzimáticas. A partir de cada um deles eu moldei minha formação e cada estágio contribuiu para a profissional que sou hoje. Com a maturidade vamos nos descobrindo e sabendo o que melhor nos satisfaz, por isso acredito que as oportunidades devem ser abraçadas da melhor maneira possível para nos dar possibilidades de escolha. Eu acredito muito na nossa profissão. Seja dentro da área industrial ou na área acadêmica, os bioquímicos têm possibilidade de se destacar (e se destacam, visto que temos muitos exemplos de colegas se destacando). Todas as profissões enfrentam problemas, como salários não satisfatórios, trabalho exagerado, principalmente no início. Isso não é exclusividade do bioquímico. Mas a dedicação sempre é recompensada, podem ter certeza!

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O movimento Bioquímica Brasil foi fundado em 2014 por egressos e estudantes dos cursos de Bioquímica.

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