Controle de Qualidade: Tratamento de água e esgotos na SAAE-Viçosa

por | out 25, 2014

A entrevista de hoje é com Henrique Santana, Bioquímico formado pela UFV, turma de 2005, com mestrado em Bioquímica e Imunologia pela UFMG onde atuou nas áreas de proteômica e espectrometria de massas e em prospecção de novos compostos bioativos. Atualmente é Chefe do Setor de Qualidade e Tratamento de águas e esgotos do SAAE -Viçosa, MG (Serviço Autônomo de Água e Esgoto).
- (Bioquímica Brasil) Henrique, você poderia fazer uma breve descrição do seu dia-a-dia de trabalho como bioquímico na área de qualidade e tratamento de águas e esgotos?
(Henrique) O dia-a-dia no SAAE em Viçosa é bem corrido. No atual momento, o foco principal é manter a qualidade de toda água fornecida a população de Viçosa em acordo com os padrões de potabilidade da portaria 2.914/2011 do Ministério da Saúde. Para isso, coordeno e conto com uma equipe de vinte e duas pessoas, entre operadores de estação de tratamento de água, operadores de bombas, coletores de amostras e estagiárias dos cursos de Química e Engenharia Química. Além deste processo de gestão de pessoas, tenho que coordenar e gerenciar os dois laboratórios de excelências situados nas duas Estações de Tratamento de Água (ETA) a fim de manter a qualidade final do produto. Perante o Conselho Regional de Química, sou responsável por toda água fornecida a população de Viçosa, sendo esta água provida dos 17 sistemas de abastecimento de água do SAAE. Estes sistemas são constituídos por duas estações de tratamento de água (tratam aproximadamente16 milhões de Litros diários) e 15 sistemas compostos por poços semi-artesianos. Destaco que a comunidade hoje em dia exige um serviço de qualidade e para isso precisamos sempre estar realizando uma manutenção preventiva em todo o sistema para evitar, ao máximo, os imprevistos. O SAAE realiza trabalhos de educação ambiental com toda a comunidade viçosense e parte deste trabalho consiste na visitação de alunos de escolas e Universidades à ETA. Eu sou responsável por receber e explicar todo o funcionamento do sistema da ETA para estas pessoas. O SAAE está construindo a Estação de Tratamento de Esgoto e muito em breve terei que coordenar este tratamento também.
- Como você aplica os conhecimentos adquiridos no curso no seu dia a dia de trabalho? Poderia nos citar alguns exemplos?
Aplico praticamente em tudo que faço aqui no SAAE, desde um simples cálculo da concentração de uma solução que será dosada na água até conseguir diagnosticar e corrigir uma anormalidade em todo o processo de tratamento. Um exemplo que gosto de citar é o controle que deve ser feito na dosagem do coagulante na água.  A concentração do coagulante usado é proporcional à quantidade de “sujeira” na água. A coagulação ocorre pela adição de sais de alumínio ou de ferro que, em contato com a água, formam espécies hidrolisadas com cargas positivas. A maioria das impurezas da água como partículas coloidais, substâncias húmicas e microrganismos em geral apresentam-se com carga negativa. Sendo assim, ocorre a neutralização das cargas com a posterior formação dos flocos que serão removidos pela decantação. Como estamos trabalhando em um processo dinâmico, a qualidade da água bruta pode variar muito ao longo de um dia e, por isto, precisamos ajustar a concentração do coagulante. Suponhamos que ocorreu uma chuva torrencial arrastando muitas sujidades para o leito do rio. A qualidade da água bruta cai consideravelmente e com isso teremos que dosar mais coagulante. Mas, quanto mais? Para isto, utilizamos de um teste em jarros (Jar test) em que variamos a concentração do coagulante na água bruta captada. Reproduzimos em pequena escala as condições que acontecem na ETA (gradiente de velocidade, tempo de mistura rápida, tempo de floculação, tempo de decantação) para verificar a melhor dosagem a fim de obter uma turbidez e cor final baixa na água. Ao fim do teste, escolheremos a dosagem de coagulante que será mais eficiente no processo e demandará uma menor quantidade de coagulante a fim de economizar produto.
- O que te fez abrir os olhos para esta área?
Admito que ao longo da minha formação, tanto na graduação da UFV como no mestrado da UFMG, eu jamais imaginaria que iria trabalhar na área de saneamento. Próximo ao término do mestrado comecei a procurar concursos que poderia enquadrar com a formação de bioquímico. E dentre estes, verifiquei a demanda para atuar em companhias de saneamento.
- Como surgiu esta oportunidade de emprego para você?
Esta oportunidade surgiu com a publicação Edital de Abertura de Concurso Público do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Viçosa no ano de 2011. O que mais me interessou era poder trabalhar na minha área de formação na minha cidade natal (pois é, sou nativo). A partir daí, foi debruçar sobre os livros e as leis para ser aprovado.
 - Quais disciplinas do curso (com base na grade da UFV) você recomendaria ao bioquímico fazer para atuar nesta área? Vê necessidade de fazer uma pós-graduação (mestrado/doutorado strictu sensu) ou MBA?
Existem diversas disciplinas que podem ser de extrema validade para um profissional que atuará nesta área. Destaco que o Professor Rafael Bastos ministra algumas disciplinas voltadas para o pessoal da Engenharia Ambiental, sendo ele um profissional extremamente conceituado na área de Saneamento. Cito diversas disciplinas: “CIV442 Qualidade da Água, CIV441 Introdução ao Tratamento de Águas Residuárias, CIV444 Tratamento de Águas Residuárias I, CIV447 Tratamento de Águas Residuárias II, CIV343 Saneamento Básico, CIV346 Sistemas de Abastecimento de Água, CIV347 Sistemas de Esgotos I e II, CIV348 Instalações Hidráulicas e Sanitárias II. MBI462 Microbiologia de Águas e Efluentes” que seriam muito interessantes nesta área. Quanto à necessidade de fazer uma pós-graduação, acredito ser interessante sim, pois sempre temos muito a aprender e podemos sempre contribuir mais com a instituição (eu mesmo penso no futuro fazer um doutorado na área). Mas não acredito que essa pós-graduação seja necessária para que o Bioquímico recém-formado seja inserido no mercado nesta área.
- Percebe vantagens e/ou desvantagens de se ter a formação superior em Bioquímica para esta atuação profissional?
A principal vantagem de ter a formação em Bioquímica é a interdisciplinaridade do curso que nos oferece a capacidade de solucionar diversos desafios como, por exemplo, trabalhar em um ambiente que envolve vários campos de conhecimento. A principal desvantagem é que algumas disciplinas sobre o saneamento entram no currículo como facultativas o que não incentiva os alunos a cursarem.
- Qual a importância de se ter registro no CRQ? Você vê a necessidade dos bioquímicos terem seu próprio conselho?
No cenário atual, o CRQ é extremamente importante para quem trabalha nesta área de saneamento. Sem o registro no conselho de classe, não podemos trabalhar como responsáveis técnicos, e são esses os profissionais que o mercado de trabalho precisa.
Tratamento de água existe na maioria das cidades e todas elas precisam de um responsável técnico. Pouquíssimas cidades conseguem manter uma estrutura como o SAAE de Viçosa e em seu quadro de funcionários possuir um responsável técnico. Com isso, uma boa forma de complementar a renda é dando assistência a serviços de tratamento de água das cidades vizinhas. Além da área de saneamento, o CRQ abre uma gama de possibilidades para atuar como responsável técnico em diversos tipos de indústrias químicas. 
Pelo menos na minha área de atuação, não vejo a necessidade do conselho de bioquímica porque até o momento tudo que precisei o CRQ me atendeu. E não sei até que ponto a existência de um conselho de bioquímica poderia restringir nosso campo de atuação.

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Bioquímica Brasil

O movimento Bioquímica Brasil foi fundado em 2014 por egressos e estudantes dos cursos de Bioquímica.

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