O Bioquímico na Industria: P&D Analítico na Industria Farmacêutica

por | abr 16, 2020

 

 

Bruno Ribeiro Gomes é Bacharel em Bioquímica formado pela UEM e atualmente trabalha na industria farmacêutica Pratti-Donaduzzi, no Paraná, em cargos relacionados a pesquisa, desenvolvimento e inovação analítica.

Como foi sua escolha do curso? Quando você entrou você já tinha noção que era diferente de farmácia e de biotecnologia? Você sabia que o bacharel em bioquímica é considerado um profissional da química, capaz de ir além da pesquisa básica e da biotecnologia, com vários outros campos de atuação?

 R: Quando o curso surgiu aqui na UEM (Paraná – Maringá) eu estava tentando Medicina, desisti dessa área e parti para a Bioquímica pois era o curso que mais se assemelhava aos meus objetivos profissionais que era contribuir de alguma forma para melhorar a saúde e a vida das pessoas, além da possibilidade de desenvolver novas tecnologias. Sim, eu tinha noção de que era um curso diferenciado e voltado para a área das ciências químicas, mesmo antes de ingressar no curso. Antes de decidir pelo curso, eu fui em feiras de profissões e li à respeito do curso na internet, e isso me fez decidir pelo curso.

 Nos conte como foi sua trajetória acadêmica e profissional até aqui?

R: Pra aqueles que acham que o curso de Bioquímica é mais tranquilo que a Farmácia ou Química, já adianto que não é bem assim. Trata-se de um curso entre as ciências exatas (por incrível que pareça!) e a Biologia/Química. Confesso que sempre detestei matemática e física, e achei que neste curso me livraria dessas frentes, só que não! Tive muitas matérias que a base era a matemática e a física, pois para realizar pesquisas e para ter o bem entendimento do organismo, é necessário saber essas matérias… enfim, foram 4 anos de curso integral (manhã e tarde) e não me arrependo de tudo que aprendi. Ainda durante a minha graduação, fiz estágio de férias e obrigatório na empresa farmacêutica Prati-Donaduzzi, produtora de medicamentos genéricos e está ao passo de desenvolver novos produtos, com o intuito de se tornar uma referência no mercado brasileiro. Após o término da minha graduação, graças ao estágio que fiz, fui contratado na Prati-Donaduzzi. Este ano estou completando 4 anos de empresa e sempre trabalhei no setor de Pesquisa e Desenvolvimento de produtos.

Você poderia fazer uma breve descrição da sua rotina (dia-a-dia) de trabalho? No que difere o ambiente de trabalho nesta área do ambiente de trabalho acadêmico (universitário)?

R: O crescimento profissional ocorre na verdade no dia-a-dia do trabalho e no desenvolvimento da sua capacidade de aprender a aprender, preenchendo lacunas eventualmente não vistas na faculdade. Dessa forma não somos impedidos de executar certas atividades que não estudamos ou não tivemos aulas práticas na faculdade. Existe muito treinamento e aprendizado fora da universidade e muitas empresas e industrias investem nesses treinamentos! Só que você tem que provar que tem as habilidades de resolução de problemas, aprender a aprender e proatividade e habilidades técnicas básicas relacionadas ás ciências químicas e bioquímicas.

Trabalhei por 3 anos como analista de Cromatografia Gasosa (ou cromatografia a gás) no qual eu avaliava tanto o produto acabado (remédio propriamente dito) quanto as matérias-primas que são importadas da China, Índia entre outros países, se havia solventes voláteis em excesso ou não, tendo como especificação toda uma legislação internacional a ser seguida. Esses solventes são provenientes do processo produtivos tanto da matéria-prima quanto do nosso produto acabado e muitas vezes esses solventes geram resíduos, por isso o nome de análise de solventes residuais voláteis (daí a necessidade do uso do cromatógrafo gasoso para análise).

Hoje, passei para analista das demandas de 2 laboratórios do setor de pesquisa, portanto estou atuando na parte administrativa do setor de Pesquisa e Desenvolvimento.

 Como você aplica os conhecimentos adquiridos no curso no seu dia a dia de trabalho?

R: Minha experiência laboratorial, prática e teórica com vidrarias, cuidados necessários com reagentes químicos, protocolos e métodos de análise, instrumental de análise e etc, todos adquiridos nas aulas práticas quanto nos projetos que realizei durante a graduação, me possibilitaram ingressar neste setor que trabalho e neste caso aplico no meu dia-a-dia. Entretanto, o setor de Pesquisa de Desenvolvimento na indústria difere bastante da Pesquisa acadêmica! O P&D acadêmico é bem menos regulado e busca a fronteira do conhecimento na maioria das vezes, enquanto que o P&D industrial é altamente regulado a nível nacional e internacional e busca a melhoria de produtos e processos ou a inovação em produtos existentes ou ainda novos produtos. Dessa forma, o P&D industrial deve ser adequar e seguir um padrões de qualidade nacionais e internacionais ditados por normas e protocolos (ISO, farmacopéias) ou diretrizes de agências reguladoras (FDA, ANVISA), que dificilmente são alterados. Algumas vezes apenas mediante solicitação e aprovação da ANVISA é que podemos mudanças, com a transferência do que foi desenvolvido no P &D para a produção industrial e/ou setor de qualidade). Existe portanto uma diferença grande entre buscar novos conhecimentos e buscar novos produtos!

 O que te fez abrir os olhos para esta área sair da pesquisa básica? Você acha importante realizar estágio fora da área acadêmica para auxiliar na escolha de uma carreira dentro da profissão de bioquímico

R: Acredito que por ser um curso muito específico já na faculdade é possível ver que se trata de um curso de graduação especial e diferenciado, no qual os conhecimentos de ciências químicas e bioquímicas podem nos levar a aplicar habilidades de pesquisa básica (busca de conhecimento e aplicação do método científico) a contextos bem mais aplicados em carreiras não acadêmicas. É bastante gratificante ver a aplicação dos seus conhecimentos se transformando em soluções reais para a industria, com desdobramentos econômicos e sociais evidentes (maior competitividade da industria, gerando assim mais tecnologia, mais inovação, mais empregos e por outro lado, mais acesso a saúde de qualidade através de medicamentos nacionais).

Sim, é importantíssimo fazer estágios fora da academia pois assim terá acesso ao mundo profissional, que é bem diferente em questão de cobranças, metas, equipamentos de última geração e etc, que não vemos tão evidente nos laboratórios da universidade. É um mundo diferenciado e que é importante ter essa experiência no currículo, com certeza, até para ter maior clareza nas escolhas profissionais.

No que difere o seu atual cargo como um CLT de um bolsista em termos de responsabilidades, atribuições, direitos e deveres?

R: Difere em volume de responsabilidades e cobranças, o bolsista tem um prazo e valor definido, já um CLT tem a possibilidade de ter o salário aumentado dependendo da capacidade e desenvoltura no serviço. Por isso que a cobrança acaba sendo maior, além da ambição de constante crescimento das empresas.

 Como surgiu esta oportunidade de emprego para você? Você fez estágio nessa área antes, enviou email diretamente para eles, contou com algum recrutador ou indicação de professores/amigos?

R: No meu caso foi porque eu fiz estágio de férias e também o estágio obrigatório na mesma empresa, isso facilitou muito ingressar na Prati-Donaduzzi, já que fui bem avaliado pelos meus mentores durante os estágios. Mas se por acaso você não teve a oportunidade de estagiar em uma empresa, os professores podem te indicar, e indicações são sempre bem vindas na maioria das empresas.

 Que características técnicas (disciplinas) e humanísticas você acha que o bioquímico deve desenvolver para trabalhar nessa área?

R: A princípio é necessário saber trabalhar em equipe, hoje em dia dificilmente você será único na empresa, além de trabalhar com uma equipe interdisciplinar, pode ser que você trombe com um administrador, um economista, um psicólogo, um Engenheiro Químico, Biólogo e um Analista de TI numa mesma sala trabalhando juntos por exemplo e cada um traz uma visão distinta e nem sempre de hard science como estamos acostumados na universidade. Já as técnicas, seria interessantíssimo saber EXCEL avançado, ou BI, que são programas geradores de dados e relatórios que são constantes para avaliação do desempenho dos setores de uma empresa; Existem muitas técnicas cromatográficas, (HPLC, UPLC, CG), espectroscopia e etc, depende de qual área você vai.

Percebe vantagens e/ou desvantagens de se ter a formação superior em Bioquímica para esta atuação profissional?

R: Sim, em relação ao conhecimento químico e bioquímico temos vantagens, pois vemos como funciona o nosso organismo quimicamente e isso facilita na forma de enxergar os fármacos e os medicamentos produzidos, onde que eles agem e etc. Coisas que outras formações tem uma dificuldade maior de entender o funcionamento como um todo ou possuem visões mais fragmentadas, nós bioquímicos conseguimos ver, devido a maior profundidade com que estudamos a bioquímica metabólica, a bioquímica celular, a bioquímica fisiológica, a bioquímica de cada biomolécula como a enzimologia, a bioquímica de lipídeos, a bioquímica de proteínas, a bioquímica de carboidratos, as químicas orgânicas e analíticas, bioquímicas analíticas etc..

 

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Bioquímica Brasil

O movimento Bioquímica Brasil foi fundado em 2014 por egressos e estudantes dos cursos de Bioquímica.

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