A fantástica bioquímica do chocolate

por | abr 16, 2017

Feliz Páscoa, pessoal! Hoje trazemos um texto do Otto Fraga sobre a bioquímica fisiológica por trás do chocolate. Confere aí!

SMLXL

 

Em época de Páscoa o assunto que não sai da boca do povo é um só: chocolate. Mas você tem ideia da ciência por trás dessa guloseima?

O chocolate consiste em 8% de proteínas, 60% de carboidratos e 30% de gorduras. Se você fez as contas, percebeu que essa soma dá 98%. E os 2% que faltam? É nessa parte que estão os compostos mais importantes e que causam os efeitos mais impactantes no nosso corpo.

O triptofano é uma dessas substâncias presentes no chocolate que, quando captado pelos neurônios, é transformado em serotonina, como mostrado na figura abaixo:

SMLXL

A concentração desse composto no nosso sangue varia de acordo com a hora do dia e a ingestão de alimentos, mas quando convertido em serotonina no cérebro, ela confere bom humor, sensação de bem-estar e euforia (além de um efeito analgésico). Esses efeitos são potencializados com o aumento dos níveis de endorfina que o cérebro produz.

SLXLM

Mas como que funciona esse mecanismo de ação da endorfina no cérebro? Os receptores da endorfina tem ligação direta com Receptores-G, dos neurônios, que inibem a adenilato ciclase e dessa forma diminuem a quantidade intracelular de cAMP (que é um importante mensageiro secundário nas células). As proteínas G também estão correlacionadas com os canais iônicos e na presença dessas substâncias os canais de potássio se abrem inibindo a abertura dos canais de cálcio. Em resumo: esse mecanismo promove a redução da excitabilidade neural e, consequentemente, um efeito anestésico.

Mas você já ouviu falar que o chocolate pode causar enxaqueca? Isso se deve a presença da feniletilamina que é uma substâncias encontrada no chocolate que constringe as paredes dos vasos sanguíneos do cérebro. A enzima monoamina oxidase elimina o excesso de feniletilamina, mas quando o corpo não consegue produzir uma quantidade suficiente dessa enzima, a feniletilamina é acumulada no cérebro e ocorre a enxaqueca.

MXLLSFeniletilamina

Feniletilamina

O ácido oxálico do chocolate reage com metais essenciais como o ferro, o magnésio e o cálcio, presentes no alimento e impede que eles nutram o corpo. Mesmo em doses não letais, o ácido oxálico é perigoso porque ele forma oxalato de cálcio, que é insolúvel, que pode crescer na forma de pedras dolorosas na bexiga e nos rins. Então é melhor ficar de olho no consumo exagerado do chocolate!

MLXLS

 

Ácido oxálico

É importante também lembrar que as sementes de cacau são ricas em flavonóides que são compostos químicos que atuam como pigmentos naturais de alguns vegetais. Esses compostos têm propriedades antioxidantes, antialérgicas e anti-inflamatórias. A epicatequina, por exemplo, protege as células nervosas, reduzindo os danos cerebrais causados por um AVC atuando como um excelente antioxidante.

                   

MXLLS

Epicatequina

Os polifenóis são outra classe de moléculas que possuem efeitos benéficos para o nosso organismo. Eles são encontrados no chocolate e impedem a oxidação do LDL, que é o colesterol ruim. Essa ação dos polifenóis tem ligação direta com a prevenção de doenças cardiovasculares já que eles atuam como vasodilatadores também.

SLXLM

 

Polifenol

E por último nessa lista - mas não menos importante -, a molécula mais conhecida do chocolate que é a cafeina, é um composto da família dos alcalóides. Essa família é constituída de aminas cíclicas que apresentam anéis heterocíclicos contendo nitrogênio, como mostrado na figura abaixo:

MXLLS

 

Cafeína

A cafeina consegue inibir os receptores de adenosina, bloqueando a ação desse neurotransmissor. A consequência disso é a vasoconstrição e a estimulação neural, fazendo com que fiquemos em estado de alerta e estimulando a produção de adrenalina. Outro modo de ação da cafeína é o bloqueio da enzima fosfodiesterase, responsável pela quebra do mensageiro secundário cAMP, fazendo com que os sinais excitatórios da adrenalina persistam por muito mais tempo. Além disso a cafeina aumenta a concentração de dopamina no sangue, sendo a maior suspeita do porque o chocolate ser tão viciante.

A molécula que é a principal responsável pelo vício de quem é chocólatra é a teobromina. Esse composto possui uma estrutura muito similar a da cafeína, ambos são alcalóides da família das metilxantinas. Essa substância é conhecida por ter ação de vasodilatação e por ter um efeito diurético, sendo útil para reduzir os níveis de água no corpo.

SLXLM

 

Teobromina

Portanto, quando for comer o seu chocolate nessa Páscoa, lembre-se que ele é muito mais do que só carboidratos e lipídeos. Agora você é capaz de explicar para qualquer um da sua família porque ele é tão viciante e consegue entender porque seu irmãozinho que, comeu todos os ovos de chocolate hoje, vai ter aquela baita dor de cabeça ao longo da semana. No mais, aproveitem (com moderação)!

Compartilhe este artigo:

[ssba-buttons]

Bioquímica Brasil

O movimento Bioquímica Brasil foi fundado em 2014 por egressos e estudantes dos cursos de Bioquímica.

bioquimicabr@gmail.com

Bioquímica Brasil

O movimento Bioquímica Brasil foi fundado em 2014 por egressos e estudantes dos cursos de Bioquímica.

bioquimicabr@gmail.com

0 comentários

Enviar um comentário

REDES SOCIAIS & CONTATO

FACEBOOK LINKEDIN INSTAGRAM

bioquimicabr@gmail.com

FACEBOOK
LINKEDIN
INSTAGRAM

bioquimicabr@gmail.com

Bioquímica Brasil ©. Divulgando a ciência Bioquímica desde 2014!