O Conhecimento Técnico-Científico Tem Paredes Invisíveis
Você já assistiu ao filme “Jimmy Bolha”? Não é um filme que eu recomendaria, mas era um clássico do Cinema em Casa... Não? Okay. Talvez tenha visto “Tudo e Todas as Coisas”, meu quarto filme favorito dentre os romances jovens lançados nos últimos tempos... Não? Tudo bem, ninguém é perfeito. Mas com toda certeza você já ouviu falar da Universidade... Já? Ótimo, porque é dessa bolha que eu quero falar!
Assim como os personagens desses filmes, salvo o contexto da trama, o meio acadêmico vive numa bolha com paredes translúcidas que permitem visualizar todo o universo ao seu redor, mas nos torna às vezes incapazes de interagir com ele. Uma bolha utópica, surrealista -dependendo do contexto-, construída com jargões e discussões inalcançáveis para maioria da população. E não é uma coisa pontual! Ela rodeia desde as equações gigantescas da galera de exatas até as teorias sobre espaços urbanos e criminalidade da galera de humanas...
Caso você discorde de mim, é fácil testar essa informação: peça alguém que não é do meio acadêmico pra ler um artigo publicado em uma revista de alto impacto ou pergunte o que ela achou das rodas de debate sobre políticas públicas que aconteceu durante o sarau da semana passada . Há uma barreira de comunicação nítida e monumental entre o que nós produzimos na universidade e as pessoas que, em teoria, seriam os maiores beneficiados por todo esse conhecimento.
E não pense você que isso não é uma autocrítica. Quantas vezes no churrasco de família eu tive que quebrar a cabeça pra falar que eu trabalho com prospecção de metabólitos do cultivar IAC17 potencialmente tóxicos para A. gemmatalis sem ninguém achar que eu estava conjurando uma força maligna.Até mesmo esse texto, que está cheio de termos e floreios... é uma coisa de louco!
Isso fica claro como água ultrapura quando você atravessa as quatro pilastras e resolve ter uma experiência, mesmo que breve, por Viçosa afora. É uma realidade tão contrastante que no fim do dia você não consegue enxergar outra coisa a não ser privilégio em simplesmente estar com o casaco do seu curso andando pela reta. A Universidade, em sua maioria, não alcança a comunidade em que está inserida. Ela permanece ali, quase intocada. Existem uma ou duas dúzias de projetos que buscam quebrar essa barreira, mas é pouco perto da demanda existente.
Não dá pra sonhar em ser vetor de mudança e deixar um país melhor pras futuras gerações sem parar de olhar pro próprio Lattes e pensar fora da caixinha academicista que paulatinamente foi construída na nossa cabeça. É uma cultura que precisa, urgentemente, de mudanças drásticas. É um exercício diário que precisa tomar espaço e esforço no nosso dia a dia.
Obviamente, tudo precisa de contexto. Mas se você acha que o seu trabalho dentro da faculdade tem o potencial de transformar algum segmento da sociedade, se faça essa pergunta ao final do seu dia: “O meu conhecimento está acessível para o trabalhador que o financiou? ”
Sem mais delongas, quebre a redoma e sai pra tomar novos ares. Faz bem.
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