As diferenças entre os cursos de Bioquímica e Farmácia
BIOQUÍMICA E O BACHAREL EM BIOQUÍMICA
Por que o curso de Bioquímica foi criado?
O curso de Bioquímica foi criado na Universidade Federal de Viçosa (UFV) em 2000, baseando-se em seis premissas:
- O mercado de trabalho emergente na área de bioquímica e biotecnologia exige uma formação sólida e única, que antes estava dispersa em cursos e profissões diferentes, como farmácia, agronomia, biologia, medicina, química, engenharia de alimentos e engenharia química;
- Inspiração do prof. Mares Guia, fundador da primeira indústria de bioquímica e biotecnologia nacional e prof. da UFMG, um dos maiores expoentes da bioquímica nacional. Ele considerava que um curso de graduação seria o desdobramento natural do fortíssimo crescimento da bioquímica brasileira no panorama científico-tecnológico nacional e internacional;
- Exemplos da graduação em Bioquímica existentes na Argentina, Chile, México, EUA, Alemanha, Reino Unido, França e Portugal, nos quais os campos de atuação do bioquímico são bem definidos e diferentes do farmacêutico e do analista clínico;
- Caráter inovador e estratégico para o Brasil;
- Necessidade de se formar um profissional com fortíssimo embasamento de ciências químicas na interface com a biologia e suas aplicações na indústria, clínica, ensino, pesquisa científica e áreas comerciais (gestão, regulações, patentes etc);
- Corrigir a mistura de perfis e conceitos da reforma curricular de 1969 da Farmácia, que criou o farmacêutico-bioquímico e a confusão entre os conceitos de bioquímica e análises clínicas. E assim permitir que o farmacêutico se dedique mais a sua área de atuação principal (o medicamento e interação medicamento-paciente) e o Bioquímico se dedique mais aos diversos aspectos da bioquímica.
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A proposta do curso e profissão foi aceita, tendo surgido os cursos de Bioquímica na Universidade Federal de São João del Rey (UFSJ) e na Universidade Estadual de Maringá (UEM);
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Ex-alunos (egressos) se tornaram pós-graduandos ou professores universitários em universidades públicas e privadas espalhadas pelo país, outros se tornaram profissionais concursados em diversos níveis em instituições como Embrapa, Inmetro, Policia Civil, Fiocruz, SAAE etc.. Outros estão trabalhando ou já trabalharam em empresas e indústrias privadas, como Vallée, Natura, VTT, BIOMM, TIAL alimentos, Thermo-Fischer, dentre outras. E também aqueles que criaram empresas como CentroInova, CellSeq e Invita Nutrição;
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Avaliação do curso de Bioquímica da UFV como 5 estrelas pelo Guia Abril do Estudante.
O BACHARELADO EM FARMÁCIA (GENERALISTA)
O Farmacêutico é o profissional da saúde que trabalha com o fármaco e o medicamento nos aspectos social, científico e tecnológico, sempre em função da saúde humana e no Brasil, dentro e fora do contexto do SUS. O conceito de fármaco, de uma forma simples, é qualquer composto químico com interesse medicinal, seja positivo a saúde (fármaco-medicamento) ou negativo a saúde (tóxico), presente em medicamentos, vacinas, soros, cosméticos, saneantes e alimentos. No escopo de atuação do farmacêutico estão a pesquisa, desenvolvimento, produção, manipulação, armazenamento, controle e garantia de qualidade de fármacos/medicamentos em todos os níveis de atenção à saúde (conforme SUS) e também o planejamento, administração e gestão de serviços de assistência e atenção farmacêuticas, individual e coletiva.
Atualmente a profissão farmacêutica é marcada pelos conceitos de assistência farmacêutica e atenção farmaceutica] A assistência farmacêutica engloba todo o ciclo do medicamento antes do uso pelo paciente, trazendo a preocupação com a saúde do usuário final para as etapas de pesquisa, desenvolvimento, produção, formulação, qualidade, conservação, transporte, distribuição e seleção, difusão de informações e educação continuada para profissionais da saúde e pacientes. Já atenção farmacêutica caracteriza-se pelo relacionamento direto entre farmacêutico e paciente visando o acompanhamento e uso racional da farmacoterapia, incluindo: atendimento farmacêutico (interação farmacêutico-paciente), fornecimento de medicamentos (dispensação), acompanhamento da farmacoterapia e intervenção farmacoterapêutica.
Como uma consequência natural das análises químicas, clínicas e biológicas na busca de fármacos ou tóxicos, os farmacêuticos entraram na área de análises clínicas e de alimentos, através da reforma curricular de 1969. Entretanto, um equívoco introduzido na reforma curricular em 1969, e somente corrigido na reforma de 2002, se tornou evidente: o uso do termo análises clínicas como sinônimo de bioquímica e analista clínico como sinônimo de bioquímico. Veja bem: é importante ressaltar que não é que a presença de farmacêuticos nas análises clínicas esteja errada, mas sim que o termo utilizado estava equivocado. Defendemos o uso do termo farmacêutico analista clínico e reconhecemos a importância destes profissionais para as análises clínicas e saúde do brasileiro.
ANÁLISE CURRICULAR: DIFERENÇA ENTRE BIOQUÍMICA E FARMÁCIA
De um modo geral, a reforma curricular de 2002 do curso de farmácia diminuiu a quantidade de disciplinas e carga horária de exatas e ciências químicas, abrindo espaço para disciplinas da área de saúde relacionadas a atenção e assistência farmacêutica. Por outro lado, o curso de Bioquímica manteve a base geral de exatas e ciências químicas existentes nos cursos de química e nos antigos cursos de farmácia industrial e farmácia-bioquímica existentes anteriormente a reforma de 2002 (inclusive alguns farmacêuticos enxergam o bacharelado em bioquímica como o sucessor natural do antigo farmacêutico-industrial e do antigo farmacêutico-bioquímico).
Recentemente, em Outubro/2017, uma nova reforma foi realizada, destacando a formação do farmacêutico em 3 eixos: 1-Cuidados com Saúde 2-Tecnologia e Inovação em Saúde 3- Gestão em Saúde. A distribuição do tempo de teoria de estudo deverá ser 50% no eixo 1, 40% no eixo 2 e 10% no eixo 3. Já a distribuição do tempo de estudo prático, em estágios, deverá ser 60% relacionados a assistência farmacêutica, fármacos e medicamentos, 30% em análises clínicas e 10% em especificidades regionais. Como pode ser visto no site do MEC aqui, a reforma de 2017 consolida em definitivo o farmacêutico como profissional da saúde e do medicamento.
Um exemplo de atuação em cuidados com saúde é a assistência farmacêutica e a dispensação de medicamentos (no balcão de farmácias e drogarias),visando o uso racional do medicamento e o acompanhamento da farmacoterapia do paciente, como por exemplo aqui, acerca dos consultórios farmacêuticos e da interação farmacêutico-paciente-demais profissionais de saúde.
Além das diferenças com relação ás ciências exatas, os dois cursos também apresentam diferenças nas ciências biológicas utilizadas! Para o farmacêutico esse componente é bastante voltado à área biomédica e de saúde, uma vez que o farmacêutico é um profissional da saúde. Já no caso do bioquímico, como profissional da química e da biotecnologia, as disciplinas biológicas ajudam a direcionar o profissional para as diversas áreas da bioquímica, como a bioquímica agrária, bioquímica de alimentos, bioquímica industrial e bioprocessos, tecnologia bioquímica e biotecnologia , bioquímica ambiental e bioquímica médica e clínica.
No quadro abaixo, fica fácil verificar a diferença entre os dois cursos, ao explicitarmos as disciplinas definidoras da identidade de cada um dos cursos.
ANÁLISES CLÍNICAS: ONDE BIOQUÍMICOS E FARMACÊUTICOS SE ENCONTRAM
Se para o farmacêutico a entrada no mercado de análises clínicas foi uma consequência natural das análises químicas, clínicas e biológicas na busca de fármacos ou tóxicos, para o bioquímico a entrada neste mercado também foi uma consequência natural de sua habilidade nas análises químicas, biológicas, bioquímicas e biotecnológicas e também consequência natural do equívoco existente entre os termos bioquímica e análises clínicas, conforme dito acima. Cumpre lembrar que esta área nunca foi exclusiva de nenhum profissional e que atualmente atuam nesta área: farmacêuticos, biomédicos, biólogos, químicos e bioquímicos, cada qual com sua expertise.
Entretanto, se para farmacêuticos e biomédicos as disciplinas de análises clínicas são obrigatórias, para o bioquímico elas são optativas, compondo uma enfase no currículo que deve ser complementada com uma especialização ou mestrado profissionalizante em análises clínicas (veja o quadro abaixo mostrando como o Bioquímico tem capacidade de atuar em Análises Clínicas). O papel do bacharel em bioquímica está bem descrito em outras postagens neste site.
CONCLUSÕES : PORQUE O FARMACÊUTICO DEVE SE ALIAR AO BIOQUÍMICO PARA DIFERENCIAR OS CURSOS E PROFISSÕES PERANTE A SOCIEDADE?
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