O Bioquímico atuando na perícia criminal
A Irislaine R. Santos é Bioquímica pela UFSJ (2009-2014) e estagiou na Seção Técnica Regional de Criminalística, em Divinópolis - MG.
- Iris, você pode nos contar um pouco sobre a sua trajetória acadêmica?
Eu entrei na UFSJ no segundo semestre de 2009. A partir do 3° período entrei em um projeto de iniciação cientifica, o qual fiquei por 2 anos, durante esse período pude ter uma noção de como seria uma carreira acadêmica. Participei do PET Bioquimica (programa de educação tutorial) onde realizava atividades voltadas para a extensão, participei de jornadas acadêmicas, congressos, enfim aproveitei as oportunidades que surgiram na universidade. Mesmo participando de atividades acadêmicas optei por realizar o estagio supervisionado, mesmo que não sendo obrigatório (e acho que deveria ser), pois esta seria a forma de ter uma visão de como o mercado funciona.
- Como surgiu a oportunidade de estagiar em uma seção regional de criminalística? Você conseguiu por conta própria ou foi por indicação de alguém da universidade?
No final do curso comecei minha saga pela procura do estágio, pois até então a universidade não tinha nenhuma empresa conveniada onde pudéssemos realizar o estágio. A única alternativa era ir atrás, de porta em porta mesmo. Dessa forma, estive em várias empresas tanto em Divinópolis como em algumas cidades vizinhas e nada. Então uma colega de sala que estava terminando seu estágio na seção técnica regional de criminalística (STRC), em Divinópolis, me disse que iria sair e que era para eu procurar o responsável da seção e expor meu interesse a ele. Fui lá e deu certo.
- Como foi a sua transição da academia para o estágio e o que te fez escolher esse rumo ''não acadêmico''?
Antes de entrar na universidade eu já tinha em mente que queria realizar um curso superior que me fornecesse uma posição no mercado de trabalho, então sempre pensei em realizar o estágio. Durante a graduação houve muitos incentivos para a carreira acadêmica e raríssimos para seguir uma carreira profissional fora da universidade. Muitas vezes nos sentíamos sozinhos em uma busca coletiva, pois uma porta aberta para um poderia beneficiar muitos outros posteriormente e ainda tinha a questão de ser um curso novo para o mercado dificultando assim a aceitação dos alunos. Mas, eu como muitos, insistimos em conhecer esse outro lado do profissional, já que durante a graduação conhecemos um pouco da carreira acadêmica e essa insistência de que bioquímico poderia ser - ou melhor: é! - um grande profissional fora da academia é que faz com que o bioquímico seja mais conhecido a cada dia.
Quando entrei para o estágio, fui a segunda aluna de bioquímica a realizar o estagiar lá e somente entrava um quando saía outro. Hoje são 10 (dez) alunos de bioquímica estagiando no setor de perícia, além disso, existe agora uma parceria na utilização do laboratório de toxicologia da UFSJ para realização de análises definitiva de entorpecentes, que antes era enviado para Belo Horizonte e demorava cerca de 30 dias para ficar pronto devido ao grande números de solicitações desse tipo, agora estes laudos são todos feitos em Divinópolis mesmo. Olhando para trás, vemos que valeu a pena todo esforço e o que foi plantado naquela época dá frutos até hoje.
- Como é a rotina na perícia? E como você aplica a Bioquímica no cotidiano da profissão?
A rotina dos trabalhos de um perito criminal se difere devido ao local onde o mesmo estiver lotado, no Instituto de Criminalista ou em alguma das seções técnicas regionais. No Instituto de Criminalística, em Belo Horizonte, há uma divisão constituída por 3 laboratórios: o de Balística, o de Biologia Legal (envolve trabalhos com DNA) e o de Física e Química Legal (uma das atividades desenvolvidas nesse laboratório é a constatação definitiva de substâncias entorpecentes). No instituto, os peritos trabalham, de preferência, de acordo com sua formação e nós bioquímicos nos encaixamos muito bem nas seções de biologia legal e química legal, pois temos um conhecimento vasto nestas áreas e dessa forma teremos grande facilidade e segurança na execução dos trabalhos. Mas não há impedimentos em desenvolver trabalhos em outras áreas pois nas seções regionais os peritos realizam seus trabalhos em diversas áreas, isso porque após serem aprovados no concurso público, os peritos fazem um curso aproximadamente 800 horas na academia de polícia onde aprendem sobre todas as funções que irá desempenhar.
Quando um perito assume alguma das regionais espalhadas pelo interior de Minas Gerais, eles normalmente trabalham em regime de plantão e assim ficam a disposição para realizar seu trabalho de acordo com necessidade do dia. Isso faz com que a rotina de um perito seja dinâmica e cheia de desafios diariamente. Assim, os peritos atendem a solicitações de comparecimento em locais de crimes ou acidentes, flagrantes e outras atividades no decorrer do plantão. Na grande maioria das seções regionais não há separação das atividades dos peritos quanto a sua formação.
Como estagiário, é possível acompanhar de perto o dia a dia de um perito criminal. As atividades do estagiário são diversas, vão desde atividades administradas dentro da seção à de colaborador na elaboração de laudos periciais, como por exemplo laudo de constatação de entorpecentes, balística, áudio e vídeo, teste imunocromatográfico para detecção de hemoglobina humana (lembrando que essas atividades são feitas sob a orientação de um perito!).
- Quais vantagens o Bioquímico leva na área de perícia criminal, quando comparado aos outros cursos?
A área de perícia criminal envolve trabalhos de diversas áreas profissionais, um completando o outro. Então acho que não seria certo dizer que nós, bioquímicos, levamos vantagens em relação a outros profissionais, uma vez que outros profissionais são requisitados, tanto quanto nós, para outras situações que não enquadram nas nossas habilidades. Mas como eu já disse anteriormente, nas áreas de biologia e química legal somos beneficiados pelo conteúdo que adquirimos durante a graduação.
- Quais disciplinas você recomenda para quem quer seguir na mesma área (obrigatórias ou não)?
As matérias da grade da UFSJ, no geral, são úteis (inclusive as físicas), mas as disciplinas de toxicologia e ciência forense iriam contribuir muito para um perito. Ambas não estão inclusas na grade de bioquímica e poderiam ser inseridas como optativa para que quem tiver interesse cursá-las, poderia o fazer sem ter que alterar a grade.
- Quais conselhos você pode passar para os atuais graduandos que gostariam de prestar concursos para perícia?
Dica para o graduandos: aproveitem ao máximo seu tempo na universidade e se dediquem ao que se propuserem a fazer. Pode parecer que não, mas passa muito rápido! E se pretendem ser um perito criminal, assistam palestras. Se tiverem oportunidade façam o estágio para conhecer melhor a área (em Divinópolis tem alunos fazendo estágio na STRC), se informem sobre o assunto, estudem e se preparem para isso, sempre com foco e determinação. Desistir jamais.
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