Estamos preparados para a automação na ciência?

por | set 2, 2015

Parece um futuro com a Skynet, mas não é. No texto de hoje, Marcelo Depólo Polêto aborda os avanços da robótica e a eminente automação da ciência. O que levanta a pergunta: o que fará o Bioquímico então? Confere aí!
Há algumas semanas assisti uma série de vídeos do humorista Murilo Gun, no lançamento de seu curso de Reaprendizagem Criativa. Esse projeto nasceu após 3 meses na Singularity University (NASA) num curso sobre as Tendências do Futuro. O consenso é geral: a Robótica, Inteligência Artificial, Nanotecnologia e Biotecnologia estão entre as ciências mais cotadas para impactar o futuro da humanidade. E isso levantou uma dúvida: onde estará o Bioquímico nesse cenário? Pois bem! A verdade é que os avanços tecnológicos estão cada vez mais integrados na sociedade. E como fronteira, a ciência é tanto a maior desenvolvedora quanto maior consumidora de novas tecnologias.
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Em 1977, Sanger publicou seu método de sequenciamento e, quase quarenta anos depois, estamos sequenciando genomas completos. Em 1987 o AZT foi aprovado pelo FDA como tratamento contra a AIDS e, quase 30 anos depois, o paciente soropositivo, se em tratamento regular com coquetéis antivirais adequados, tem menos de 8% de chance de transmitir o vírus. Em 1997, um computador venceu o campeão mundial de xadrez Garry Kasparov pela primeira vez na história. Exemplos do tipo não param de aparecer e a tendência é que, em nosso tempo de vida, presenciemos mais revoluções científicas do que teremos condições de contar. E em intervalos cada vez mais curtos de tempo.
“Por quê?”, você pode perguntar. É simples: porque máquinas incansáveis estão substituindo nosso trabalho manual, enfadonho e rotineiro (eu mencionei Robótica lá em cima né?). Robôs que montam milhares de placas de cristalização por dia, que sequenciam milhares de amostras genômicas em algumas horas. Pense num trabalho repetitivo e mecânico, e se ele ainda não tiver sido robotizado, tenha certeza de que será. Em breve. Bem antes de termos aposentado. A matemática então se torna simples: o volume de dados crescerá de forma exponencial.
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Dentro dessa perspectiva, análises bioquímicas e biotecnológicas e mesmo processos biotecnológicos como cultivo celular e produção proteínas recombinantes em larga escala também serão automatizadas. Programas e algoritmos que compilam e calculam dados serão cada vez mais necessários. Com os avanços da inteligência artificial e data mining, o poder de reconhecimento de padrões e cruzamento de dados ficará cada vez mais longe da capacidade do cérebro humano. Onde atuará o Bioquímico então?
E a resposta é a mesma que os participantes do curso na NASA deduziram: em ser humano! Em potencializar o que nenhum algoritmo pode reproduzir: a criatividade! A capacidade de interpretar os dados, propondo ideias e hipóteses! Enxergar o uso das ferramentas e seu potencial de aplicação é que serão as chaves do empreendedorismo biotecnológico num futuro bem próximo. Da mesma forma que hoje temos laboratórios de análises clínicas, teremos laboratórios de genômica, onde os técnicos irão sequenciar, montar e interpretar os genomas dos pacientes buscando marcadores moleculares de doenças. Assim como empresas simularão computacionalmente a atividade de uma enzima antes do seu escalonamento, e companhias desenharão e testarão suas drogas in silico antes de testar milhões de moléculas e economizarão uma quantia absurda de dinheiro. Alguém duvida de um futuro assim?
É óbvio que o cenário não é tão apocalíptico quanto soa. Sempre existirá espaço para o manual e acurado, para o técnico e objetivo. Mas há de se convir que será cada vez mais raro. Existe uma necessidade cada vez mais crescente na atualização do profissional já formado. Há algum tempo era atualização em Estatística (olha o volume de dados começando…). Hoje, existem cada vez mais alunos 'de bancada' procurando por minicursos de Bioinformática (olha os algoritmos aí de novo…) para utilizar as técnicas em seus projetos. Quantos usam o programa R? Quantos usam o Blast?
Como bioquímico, sei do leque absurdamente grande que possuímos em nossa formação. Mas esses são sinais de uma mudança no paradigma profissional que vivemos.  À nós, resta observar as tendências e compreendê-las. Não para segui-las, porque quem segue tendências chega atrasado. É quem as antecipa que fica bem posicionado.
Leitura complementar: The future of employment
por Marcelo Depólo Polêto, graduado em Bioquímica pela UFV e mestrando em Biologia Celular e Molecular na UFRGS.

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O movimento Bioquímica Brasil foi fundado em 2014 por egressos e estudantes dos cursos de Bioquímica.

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