O Bioquímico na Perícia Criminal e Empreendedorismo

por | jan 28, 2015

O Rafael Locatelli, Bioquímico pela UFV (2004-2008) é Perito Criminal da Policia Civil de MG, desde 2009, e doutorando em Bioquímica agrícola, pela UFV, desde 2012. Atualmente é sócio proprietário da empresa CentroInova Alimentos, empresa incubada no CENTEV UFV, e que tem como sócios pesquisadores, mestres e doutores da UFV, incluindo a Bioquímica Monique Renon Eller.
- (Bioquímica Brasil) Rafael, você poderia nos contar um pouco mais sobre sua trajetória científica?
(Rafael) Em 2005 comecei a estagiar no laboratório de bioquímica do Prof. José Humberto de Queiróz (DBB UFV) onde iniciamos um grupo de pesquisa envolvendo o isolamento e a caracterização de fungos produtores de enzimas/proteínas de interesse biotecnológico. Lá tivemos liberdade e orientação para dar os nossos (eu e o meu amigo Lucas Benício, também aluno de BQI) primeiros passos enquanto pesquisadores. Permaneci nesse projeto até 2007 quando, então, mudei de projeto de pesquisa e fui trabalhar com a professora Márcia Rogéria (DBB UFV). O novo projeto em que eu me engajei se tratava da produção heteróloga da proteína do capsídeo viral do Porcine circovirus 2, um importante patógeno de suínos, visando a produção de um vacina recombinante. Esse foi um grande projeto que contribuiu para a elaboração de um pedido de depósito de uma patente nacional e tantas outras internacionais. Atualmente, a tecnologia de produção dessa proteína encontra-se em fase de transferência para o setor produtivo e esperamos que em breve atinja o mercado. Hoje, sou estudante de doutorado do programa de bioquímica agrícola da UFV, orientado do professor Gustavo Costa Bressan, um grande conselheiro e amigo. Nossa pesquisa atual consiste em identificação de alvos proteicos recombinantes com potencial aplicação mercadológica, principalmente em sanidade animal.
- Como surgiu a oportunidade de ser Perito Criminal da Policia Civil mineira? O edital especificava Bioquímico? Requisitava CRQ?
Ao final da minha graduação tive a grande infelicidade de não colar grau junto com os meus colegas de classe. Era a última etapa do concurso para Perito Criminal Oficial do estado de Minas Gerais. A exigência do concurso era possuir nível superior, não importando a área. Também não era exigido estar inscrito em conselhos regionais. A prova para ingressar exigia conhecimentos de matemática, português, física, química, direitos humanos e informática. Assim, com a vasta grade curricular do curso de Bioquímica da UFV (física I, II e III; química orgânica I, II, III e IV; cálculos I e II, fisicoquímica etc), não foi preciso estudar especificamente para o concurso. Outro ponto que comprova isso é que outros bioquímicos formados em Viçosa também passaram no mesmo concurso (Saulo, Virgínia, Vitor Romito, Carol Reis...).
 - Como você aplica os conhecimentos da Bioquímica como perito criminal?
A perícia mineira possui, basicamente, dois tipos de peritos: generalistas e especialistas. Os generalistas, onde me incluo, são lotados no interior do estado, em Postos de Perícia Integrada ou em Seções Técnicas Regionais de Criminalística, e são responsáveis por coletar e analisar vestígios diretamente dos locais de crime. Quando há a necessidade de conhecimentos específicos sobre um determinado assunto, no caso de perícias muito específicas como análise de documentos contábeis, vistoria em imóveis com risco de desabamento, identificação de indivíduos por impressões papilares ou DNA, os vestígios são encaminhados para os peritos especialistas para análise e emissão de laudos.
O grande diferencial de um bioquímico como perito generalista é a versatilidade para atuar em diferentes áreas. Os conhecimentos básicos adquiridos possibilitam ao profissional atuar com confiança e propor soluções nem sempre triviais. Por outro lado, desde que capacitado por cursos de especialização, o bioquímico tem plenas condições de atuar como perito especialista em diferentes áreas da criminalística, como Biologia, Química e Física forenses.
- Além da perícia criminal, você também passou a se dedicar ao empreendedorismo biotecnológico não e? Nos conte mais sobre sua empresa.
Durante os projetos de pesquisa que participei, eu e meus sócios percebemos um grande potencial de aplicação de proteínas recombinantes para desenvolver produtos na área de sanidade animal, nosso principal know how. Assim, buscamos ajuda da incubadora de empresas da UFV, IEBT-CENTEV-UFV, e submetemos um projeto de empresa. Trabalhamos muito, projetando, desenvolvendo conteúdo e nos capacitando. Chegamos até a comercializamos alguns serviços, mas a empresa não seguiu adiante.
Atualmente, estou com outra empresa, a CentroInova Alimentos ltda, que presta serviços especializados para empresas do setor alimentício. Mais informações no site www.centroinova.com
- Quais são as principais dificuldades para um bioquímico construir sua própria empresa nos dias de hoje?
As dificuldades são muitas, mas não restritas aos bioquímicos... empreender requer dedicação. Empreender não necessariamente requer abrir um negócio. Podemos ser empreendedores como funcionários de uma empresa ou mesmo enquanto funcionários públicos. O importante é querem modificar a realidade em que se está inserido, trazendo novas ideias e conceitos que trarão benefícios para a sociedade de forma geral. Empreender em biotecnologia nada mais é do que utilizar os conceitos absorvidos durante a sua formação para resolver um problema real na sociedade. Agir diferente dos demais e quebrar paradigmas. Pensar fora da caixa...
- Você pensa que alguma alteração na grade de disciplinas, poderia favorecer a atuação do Bioquímico na área da perícia criminal? E na área de bio-empreendedorismo?
O bioquímico tem uma grade curricular bastante ampla e densa. Inserir disciplinas, ao meu ver, não é a solução. Imagino completamente o contrário. Reduzir a carga de horas obrigatória e ampliar a possibilidade de formação específica com matérias diversificadas. Durante os primeiros quatro semestres os alunos se formariam com conceitos básicos com a realização de disciplinas básicas (macromoléculas, metabólica, enzimologia, biomol, bioquímica celular, cálculo, física, química orgânica etc...). Durante os três anos seguintes cada alunos se formaria de acordo com o seu interesse em determinado assunto.
Quanto a questão da perícia criminal eu visualizo como uma área que o bioquímico poderia se especializar. Claro que para isso disciplinas específicas deveriam ser criadas como toxicologia e bioquímica forense. Vale lembrar que hoje, durante a tramitação de um processo, existe a figura do assistente técnico. Este é um profissional que pode ser indicado pelas partes para emitir pareceres acerca de um fato, embasando-se para tanto em conhecimentos científicos. Visualizo que esta possa ser uma área de atuação futura do profissional bioquímico.
Com relação ao empreendedorismo gostaria de tecer alguns comentários, especificamente da realidade da UFV. Conforme disse anteriormente, podemos ser empreendedores enquanto funcionários públicos, basta para tanto querer modificar a realidade em que estamos inseridos. Muitas vezes durante o curso aprendemos a executar procedimentos experimentais e a propor modificações. Entretanto, ainda estamos muito ligados a pesquisa e distantes do mercado. Por que não questionar os estudantes como o conhecimento gerado poderia ser aplicado para resolver um problema real dentro de uma empresa? Não necessariamente todo estudante tem a vontade de empreender ou de trabalhar diretamente com empresas. Muitos gostam e fazem muito bem pesquisa básica. Mas acho que deveríamos ter que dar outras opções. Não temos sequer um professor que veio ou ainda está no mercado (sem dedicação exclusiva) e que possa ter uma visão diferenciada sobre a resolução de problemas biotecnológicos na prática! Esse seria um grande passo para incluirmos o empreendedorismo de vez na área de atuação dos alunos de bioquímica.
- Que habilidades não técnicas um bioquímico deve desenvolver para ser um bom empreendedor em biotecnologia, de acordo com sua experiência?
Pense diferente. Organize suas ideias. Procure auxílio de pessoas/instituições mais experientes. E o principal: EXECUTE! Ideias não valem nada se ficarem guardadas. Ter 100% de nada é zero.

Compartilhe este artigo:

[ssba-buttons]

Bioquímica Brasil

O movimento Bioquímica Brasil foi fundado em 2014 por egressos e estudantes dos cursos de Bioquímica.

bioquimicabr@gmail.com

Bioquímica Brasil

O movimento Bioquímica Brasil foi fundado em 2014 por egressos e estudantes dos cursos de Bioquímica.

bioquimicabr@gmail.com

0 comentários

Enviar um comentário

REDES SOCIAIS & CONTATO

FACEBOOK LINKEDIN INSTAGRAM

bioquimicabr@gmail.com

FACEBOOK
LINKEDIN
INSTAGRAM

bioquimicabr@gmail.com

Bioquímica Brasil ©. Divulgando a ciência Bioquímica desde 2014!