Uma Bioquímica no mundo dos perfumes e fragrâncias

por | nov 5, 2020

O texto de hoje é da aluna do Bacharelado em Bioquímica (UFSJ) Vanessa Costa, estagiária de P e D da Farmax e empreendedora na Aromas de Maria. 

 

Quantos Universitários, alunos, ouvintes de palestras não se fizeram a seguinte pergunta: - Para que eu tenho de aprender isso? Essa frase é tão comum que certamente você também já a mencionou em algum momento da sua vida. Acontece que nos dias de hoje, na minha opinião, deveríamos dizer menos essa frase. Primeiro, porque estamos respirando inovação, inquietude. Empresas falam de Pitch, de modelos de negócios, falam do novo. Universidades trabalham desafios, situações problemas, prazos, análises, não só se estuda conceitos e leis, agora aprendemos como as utilizar em situações desafiantes.

A Farmax, a indústria campeã em vendas de Acetona por 13 anos consecutivos, trabalha muito bem cada pontinho supracitado. Tem quase um ano que faço parte do time de Pesquisa e Desenvolvimento, lá realmente pesquisamos e desenvolvemos. Usamos ferramentas de mercado, ouvimos os nossos clientes, discutimos inovação. Nos reunimos com o marketing, setor de planejamento, gestores e consideramos todas as ideias. O meu gestor e hoje diretor Técnico da Empresa - Diôgo Campos - me deixa livre para voar. Ele realmente dá asas à minha imaginação, me instiga, me ouve, discute e confia.

A paixão por cosmético, no entanto, foi uma das coisas que surgiu em mim a partir do momento que comecei a evitar a frase “para que eu tenho de aprender isso”. O caminho foi longo desde o aprendizado de que um carbono é tetravalente até a descoberta da paixão pela Aromaterapia. A Bioquímica permite isso, essa dança do cisne entre diversas áreas. Se eu posso sugerir algo, sugiro que se joguem, façam Iniciação Científica, participem de Empresa Júnior, Ligas Acadêmicas, Atlética, de alguma forma você aprenderá algo novo e aplicável em outra situação.

Faltou falar da Perfumaria. Esta surgiu na minha vida em 2018, quando juntei inquietude, desejo por algo novo, alguns reais economizados e uma passagem para São Paulo. Lá eu realmente me encantei por algo, o Orpheu Cairiolli, um mito da perfumaria, um querido e competente profissional, que me ensinou a estudar e a encontrar a minha base. Voltei para casa com tanto amor no coração que percebi que eu estava entregue, verdadeiramente, a algo. Após três meses voltei para mais uma etapa do curso com o mesmo mestre.

Dessa vez eu estava ciente que eu precisava fazer algo com aquele ensinamento, foi quando o Aromas de Maria surgiu. Uma Startup com a missão de criar produtos inovadores com base em perfumes, a ideia era mais simples do que a explicação – era combinar essências que criassem um cheiro agradável e único para aromatizantes de ambientes. Conversei com o professor Orpheu e ele logo disse “esse negócio vai dar certo Vanessa, toca esse barco viu!” Daí pensei: mas, como arrumar dinheiro para investir? Ao comentar isso com o professor, ele me apresentou um amigo dele, dono de uma loja de Essências em São Paulo. Ainda bem que paulistano é meio doido por negócios e o então amigo do meu professor me permitiu passar um cheque para 30 dias. Eu tinha então 30 dias para vender tudo.

Foi muita luta, pensar em marketing, marca, fragrâncias, mas, pasmem, eu vendi tudo! Muitos clientes deram o feedback e aprendi ali a ouvir, a anotar, a me importar com o que eles diziam. De lá pra cá pivotei. Hoje estou no segmento PET com um novo time, com as partners Andreza Freitas e Juliana Magalhães. Com a startup ganhamos três prêmios, fomos selecionadas em 1º lugar para participar do Programa de Pré-aceleração do Agita Sebrae 2020, Divinópolis. Só um adendo, falo isso não para mostrar louros e sim para mostrar como o mundo é maluco e delicioso para quem tem vontade.

Ainda gostaria de falar da perfumaria se vocês me permitem. Uma área nada fácil de entrar, não se fala de perfumaria nas Universidades por exemplo, além de serem bem caros os cursos. Quantos perfumistas vocês conhecem? Independentemente das dificuldades, eu posso dizer que é uma área deliciosa de se seguir. Um perfumista deve possuir disciplina, treino e bons receptores nasais capazes de sentir os efeitos organolépticos dos perfumes. Deve conhecer as oito famílias olfativas muito bem (cítrico, floral, fougére, chipre, amadeirado, ambarados, couro aromático), já que um perfume deve conter notas, acordes e composição.

Para produzir um perfume imagina-se uma pirâmide como a que está abaixo, divida em três partes, essas partes são classificadas como notas de saída ou de cabeça, notas de corpo ou de coração e notas de fundo ou base, nessas notas estão as famílias com as suas fragrâncias e elementos específicos. Esse é o grande plus de um perfumista conseguir a concentração ideal para cada nota e a combinação perfeita para gerar o efeito organoléptico e ímpar de um verdadeiro perfume.

 

O olfato é o único dos cinco sentidos que tem conexão direta com o sistema límbico, parte do cérebro responsável por gerenciar emoções. Segundo Cairolli, mestre em ciências pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e doutorando de neurociência aplicada à perfumaria podemos não compreender as coisas emocionais, mas lembramos, enquanto as coisas muito objetivas, racionais, compreendemos, mas não lembramos. Me recordo muito bem em uma das atividades no curso de perfumaria, denominada pelo professor Orpheu como a hora de cheirar e inusitadamente ao passar um perfume pela turma e ao perguntar o cheiro que sentíamos, uma colega de classe definiu como cheiro do meu pai, cheiro de mofo. Aquilo me chamou atenção em como associamos o cheiro a algo emocional.   Um perfumista tanto quanto um pintor possui a sua paleta, onde contém as notas que ele possui mais apreço e que mais utiliza em suas composições. Claro, que um perfumista segue a tendência da moda, estuda o público alvo, pesquisa o mercado e analisa bem cada característica para o lançamento. Já que as dimensões de um perfume permeiam entre sensorial, social e emocional. Quem nunca sentiu um perfume e lembrou de alguém, seja positiva ou negativamente? Isso se deve pela memória olfativa que um perfume causa.

Uma nova tendência de mercado tem sido a perfumaria de Nicho, no qual se analisa a persona, gosto, preferências, estilo de vida, clima e muitas outras características para se produzir um perfume específico, único. Claro, que pode acontecer de o perfume ser tão desejado que cai nas graças do público, como aconteceu com o Chanel e com a Gigi.

Outra paixão minha são os óleos essenciais, substâncias extraídas das plantas, que possuem metabólitos secundários. Por apresentarem benefícios e aplicação para a saúde têm sido bem estudados. Os óleos essenciais possuem aromas agradáveis e é um ramo da perfumaria muito interessante – ramo que me apaixono cada vez mais e tenho estudado com bastante fascínio.

Hoje aplico aprendizados e experiências da startup, do curso, da Universidade por onde eu passo. Trabalhar com cosméticos, fragrâncias, startups, Farmax não são segmentos separados, de alguma forma tudo se conecta. É preciso de certa forma amalgamar os ensinamentos, assim a chance de fazer o negócio dar certo é maior, mas atenção, eu não disse que é 100% certo. E, você topa o desafio de inovar?

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O movimento Bioquímica Brasil foi fundado em 2014 por egressos e estudantes dos cursos de Bioquímica.

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