O Bioquímico na Industria: análises laboratoriais na agroindustria de nutrição vegetal e animal.

por | jun 7, 2020

Hoje a entrevista é com Francine Rodrigues, bacharela em bioquímica pela UFSJ e analista de laboratório nas áreas de controle de qualidade, análises microbiológicas e físico-químicas, tendo atuado nos ramos de águas  (SAAE-Carmo da Mata), cerveja (Cervam), farmoquímica e cosméticos (Farmax) e agora nutrição vegetal e animal (Grupo Bauminas).

1.Como você decidiu ingressar no curso? Você já sabia que o bacharel em bioquímica era um profissional da química com várias áreas de atuação e que você teria que estudar muita química?

Durante meu ensino médio, a matéria que eu mais me identificava era a química e sempre busquei saber mais dessa ciência. A Bioquímica foi a minha segunda opção para ingressar em uma universidade que fosse federal. Antes da inscrição, pesquisei sobre o curso com alunos que estavam cursando Bioquímica e também os planos de ensino, o que chamou ainda mais minha atenção. Um curso com múltiplas ciências químicas, além das biológicas.

2. Nos conte como foi sua trajetória acadêmica. O que mais fez os seus olhos brilharem quais as dificuldades ao longo da graduação?

Como todo calouro em uma universidade, o primeiro período; as primeiras aulas; sentia-me um pouco perdida. Mas a partir do segundo tudo foi se encaixando. Começaram os cálculos, as reações, os metabolismos. Comecei a entender um pouco da Bioquímica e a ter que estudar mais do que o de costume, pois aos meus olhos aquela Físico-Química nada se encaixava (rsrs). Foram noites em claro, fins de semana, feriados estudando para aquele tão sonhado aprovado sair. Nada teria feito sentido ao final do curso sem ter passado por tudo isso. Sentimento de dever cumprido, gratidão e emoção ao relembrar dos mestres que passaram e compartilharam conosco os seus ensinamentos e pelos amigos adquiridos nessa trajetória.

3. Nos conte agora a sua trajetória profissional até aqui?

 

Na Bioquímica, tínhamos duas opções a seguir: aplicar nossos conhecimentos em uma indústria ou então continuar a vida acadêmica. Sempre me interessei pela indústria, mesmo sem ter trabalhado em uma eu já me imaginava lá. Fui uma dos poucos da minha sala na época que decidiu seguir este caminho, pois como o curso era “novo” e confundido com outros cursos, o profissional de Bioquímica não era reconhecido como devia e assim não conseguia vagas no mercado de trabalho.

Consegui meu estágio obrigatório fazendo pesquisas na internet de empresas que se adequavam ao curso, já tinha algumas em mente, mas coloquei várias em minha lista. Fiz inúmeras ligações, nelas me apresentava, explicava sobre o curso e perguntava se havia interesse por parte deles em me receber como estagiária. Até que comecei a estagiar no laboratório do SAAE, onde pude trabalhar com análises físico químicas e microbiológicas. Agradeço muito a este começo e o tempo que passei por lá. Recentemente indústrias ainda buscam referências minha de lá.

A primeira oportunidade de trabalho não apareceu nos primeiros dias após graduada, o tão esperado SIM veio quase um ano depois. Meu primeiro emprego na área com carteira assinada foi em uma cervejaria como Analista de Laboratório, onde pude atuar durante um ano e sete meses.

Após esta experiência, consegui uma oportunidade como Controladora de Qualidade Microbiológico em uma empresa que sempre sonhei em atuar, a qual fabrica produtos farmacêuticos e cosméticos. Em especial a esta empresa, me orgulho em dizer que fui a primeira egressa do curso de Bioquímica a trabalhar lá e com isso abrir novas portas para meus colegas do curso. Nela, permaneci um ano e dois meses.

Com o tempo vamos evoluindo como profissional e novos caminhos começam a surgir. Não era o meu propósito mudar de empresa recentemente, mas fui surpreendida com uma excelente proposta a qual iria agregar muitos pontos em meu currículo. Uma ressalva, é que o currículo que deixei nesta empresa já havia alguns anos, em 2017 e outro em 2018. Hoje atuo como Analista de Laboratório Pleno em uma empresa agroindustrial que produz micronutrientes para alimentação animal e vegetal. Posso dizer que exerço meu cargo com muito amor e dedicação, sempre em busca de novos conhecimentos.

4. Você poderia fazer uma breve descrição da sua rotina (dia-a-dia) de trabalho? No que difere o ambiente de trabalho nesta área do ambiente de trabalho acadêmico (universitário)?

O laboratório em que atuo é físico químico, o analista tem o dever de questionar e solucionar problemas das análises durante a rotina. A técnica utilizada para analisar os produtos e matérias primas da empresa é através da espectrofotometria de absorção atômica em chama, a qual sou apaixonada. Para isso é necessário preparar as amostras, calibrar e manusear equipamentos sensíveis. Assim, se pode ter uma análise crítica dos resultados e com isso preenchimento de laudos com estes dados.

5. Como você aplica os conhecimentos adquiridos no curso no seu dia a dia de trabalho?

 

Em meu trabalho, as atividades desempenhadas exigem muitas habilidades práticas que conseguimos desenvolvê-las com a rotina do dia a dia e durante o curso de Bioquímica participamos de muitas aulas práticas que nos ajuda a ter uma base para isto. Sejam de simples diluições, de reações, de noções de segurança de trabalho, de calibração de equipamentos, manuseio correto de vidrarias, operação de equipamentos sensíveis, etc. Lembrando que adquirimos na graduação o essencial que são o raciocínio lógico, o senso crítico e teórico para solucionar eventuais contratempos que podem ocorrer durante a rotina de trabalho.

 

6. No que difere o seu atual cargo como um CLT (ou concursado) de um bolsista academico em termos de responsabilidades, atribuições, direitos e deveres?

Acredito que em termos de responsabilidades, ambos têm o mesmo peso. O que difere é que o empregado com a carteira assinada possui salários com reajustes, férias remuneradas, décimo terceiro, fundo de garantia, PIS e todos os direitos trabalhistas e o bolsista possui uma remuneração fixa durante o período acadêmico em vigência. Outro ponto é que em indústrias se visa o lucro em um menor tempo possível (bater metas), em contrapartida em uma universidade é desejável o melhor projeto inovador com lucro mesmo que este demore alguns meses ou até anos para ser aprovado e publicado.

 

7. Como surgiu esta oportunidade de emprego para você? Quais as dificuldades que você sentiu na busca por emprego? Você contou com ajuda de amigos, familiares, recrutadores?

Hoje, o mercado de trabalho está mais competitivo, são poucas vagas para pessoas cada vez mais capacitadas, o que exige de nós estar sempre em evolução e em busca de novos conhecimentos.

Além dos currículos cadastrados nos canais indicados e também deixado nas portarias das empresas, tive a ajuda de algumas pessoas para indicação de meu currículo. Sempre procurava conhecer pessoas no Linkedin que trabalhasse em determinada empresa que tinha interesse.

8. Que características técnicas (disciplinas) e humanísticas você acha que o bioquímico deve desenvolver para trabalhar nessa área?

 

No que se refere as características técnicas, acredito que todas as químicas vistas durante o curso são essenciais para o trabalho que exerço, desde a química fundamental onde começamos a ter noção da química em laboratório até os métodos instrumentais de análise, que é uma disciplina onde aprofundamos os métodos espectrofotômetros. Além disso, as disciplinas exatas, como cálculos e físico química.

Em questão das características humanísticas, sem dúvida alguma, o trabalho em equipe, a proatividade, o dinamismo e o senso crítico, que acredito ser válido para qualquer outro setor ou profissão dentro de uma empresa.

 

9. Percebe vantagens e/ou desvantagens de se ter a formação superior em Bioquímica para esta atuação profissional?

Foi e ainda é de grande valia todos os ensinamentos que tive no curso. A Bioquímica me possibilitou a atuar em ambientes de trabalho diversificados onde pude aprender melhor cada um deles com olhar crítico e adquirir a experiência que possuo hoje. A única desvantagem é que em uma entrevista ou para colegas de trabalho ainda é preciso esclarecer o que a Bioquímica é de fato, que somos aptos para determinada vaga e que possuímos todas as atribuições necessárias para nos candidatar.

10. Com base na sua experiência, que conselhos você daria ao atual aluno de bioquímica ?

 

A Bioquímica vem sendo cada vez mais valorizada e conhecida como realmente é, o que mostra que estamos no caminho certo. Muitos foram os avanços, tanto na inserção no mercado de trabalho, na ciência ou até mesmo na atualização de planos de ensino que são condizentes com a época e como são desempenhadas. Mas devemos continuar, fazendo ciência, questionando, e divulgando nosso curso para todos. Aproveite cada segundo, cada ensinamento, cada aula prática, cada seminário, cada estágio. Não desanime do curso por acha-lo difícil ou por achar que não tenha mercado de trabalho para nós, se você gosta, continue, vá em frente e não desista! A Bioquímica é linda e o que ela nos proporciona também.

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Bioquímica Brasil

O movimento Bioquímica Brasil foi fundado em 2014 por egressos e estudantes dos cursos de Bioquímica.

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