Diferenças entre Bioquímica e Engenharias

por | jan 10, 2016

Antes de começar, precisamos definir alguns nomes: seguindo as diretrizes do CREA, denominaremos de Engenharia Bioquímica os cursos de Engenharia de Bioprocessos e Engenharia Biotecnológica. Já para o Conselho Federal de Química  (CFQ) todos seriam considerados modalidades de Engenharia Química. Dependendo da atividade desenvolvida, o engenheiro deverá estar atrelado ao CREA ou ao CFQ. Já o bioquímico é sempre atrelado ao CFQ).
Bem, em termos de origem, tanto a Bioquímica quanto a Engenharia Bioquímica foram geradas dentro de departamentos e escolas de química e engenharia química. Talvez por esse motivo, a diferença entre elas é análoga à diferença entre Química e Engenharia Química: embora trabalhem com o mesmo tema,  o Bioquímico e o Engenheiro Bioquímico atuam de formas diferentes!

A verdade é que, num primeiro olhar, os cursos podem até ser parecidos, mas apresentam diferenças que podem causar desilusões aos estudantes mal informados. Uma boa forma de tirar qualquer dúvida é procurar as atribuições que os Conselhos Federais podem fornecer para cada curso. Por isso, vamos pensar um pouco sobre a figura abaixo:

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O CFQ pode conceder até 16 atribuições a um curso de ensino superior. Mas não se engane: aqui quantidade não é qualidade! Não é porque um curso possui mais atribuições que ele é melhor que outro. Na verdade, o conjunto de atribuições de cada curso o direciona para uma determinada atuação. Pra facilitar mais ainda, resumimos abaixo:
  • As diferentes e inúmeras carreiras do Bacharel em Bioquímica, podem ser encontradas aqui no site na aba sobre o Bioquímico.
  • Os  bacharéis em Bioquímica aplicados a indústria essencialmente são preocupados com a química da vida aplicada em plantas industriais. O ingressante no curso de Bioquímica deve cursar disciplinas específicas que garantem as atribuições do MEC dispostas acima e que são necessárias para a atuação na indústria.  As atividades deste bioquímico estão relacionadas a pesquisa e desenvolvimento de novos produtos industriais (vacinas, alimentos, cerveja e biodiesel, por exemplo), no controle de qualidade de produtos e processos industriais, estudos de viabilidade técnico-econômicas, operação e manutenção de equipamentos e no tratamento de resíduos (águas e esgotos por exemplo). Caso tenha formação gerencial, poderá ainda planejar e supervisionar processos de produção biotecnológicas, gestão de projetos, análise de mercado e gestão de marketing, análise de patentes ou mesmo gestão de inovações. Neste caso, deverá ter em seu currículo disciplinas que o CFQ determina próprias para o profissional da química tecnológica: gestão e administração, processos fermentativos industriais, desenho industrial, operações unitárias e fenômenos de transporte. Com isso, o Bioquímico Industrial acaba tendo um ótimo balanço entre disciplinas das áreas de biologia, química e física, próprios para uma atuação multidisciplinar dentro do ambiente industrial, realizando as atividades de 1 a 13 descritas acima.
  • Os Engenheiros Bioquímicos são essencialmente preocupados com os problemas de projetos e operações de plantas industriais. As atividades desta engenharia estão relacionadas ao projeto de plantas, dimensionamento de bombas, cálculo e dimensionamento de reatores, trocadores de calor, cálculo de perda de carga de tubulações, especificação de materiais especiais, etc.. Outra atividade muito importante é o cálculo e dimensionamento da dinâmica das reações. O Engenheiro Bioquímico deve em muitos casos usar (ou desenvolver) modelos destas reações para prever e dimensionar o tempo das reações ou o tempo de residência do reator. Note que nesta última atividade, o emprego dos modelos de cinética química é extensivo e relacionado fortemente com a Física e Físico-Química. Pode-se dizer que a Engenharia Química e Engenharia Bioquímica são, em realidade, uma engenharia "Física", no sentido que a maior parte de suas atividades (estimados uns 80% a 90%) estão relacionadas a Transferência de Calor, Mecânica de Fluídos, termodinâmica e cinética das reações químicas. Consequentemente, 80 a 90% da grade curricular serão destinadas a essas disciplinas e conhecimentos, contemplando as  atribuições 1 a 13, mas principalmente 13 a 16 do CFQ. Entretanto, como dissemos acima, não é porque um curso possui mais atribuições que ele é melhor que outro, ou mais apto para esta ou aquela atividade que possui em comum. Na verdade, as Engenharias são mais vinculadas as atividades 13 a 16 dentro do CFQ e aquelas que o CREA admite.
(Para efeitos de comparação de grades curriculares, como fizemos com o curso de farmácia, deem uma olhada nas grades de Engenharia de Bioprocessos da UFRJ, Engenharia Química da UFV e comparem com a grade da Bioquímica da UFV)
No entanto, nem tudo são flores de simplicidade! Um cuidado especial que o candidato deve ter é que inúmeros cursos de Engenharia Bioquímica, de Bioprocessos ou de Engenharia Biotecnológica apenas carregam o nome "engenharia" como uma questão de status e acabam tendo muito mais enfoque na bancada da ciência básica do que em processos industriais. Até mesmo aqueles com pegada industrial, apresentam mais um perfil de bioquímico industrial do que propriamente engenharia bioquímica. Nesses casos, é bom lembrar que o CREA e o MEC determinam um conteúdo mínimo para considerar um curso como “engenharia”, e o CRQ e o MEC fazem o mesmo para se decidir entre Bioquímica ou Engenharia Bioquímica.
Por isso, basta pensar: se você tem mais afinidade pela Química e Biologia ou se você tem mais afinidade por Física e Matemática. As primeiras são as bases da Bioquímica, enquanto as últimas são as bases da Engenharia Bioquímica. E entre essas duas, o Bioquímico Industrial acaba sendo uma opção mais balanceada de atuações.
Por fim, a dica de ouro é: logo após decidir sua própria afinidade, leia a grade curricular dos cursos pretendidos, para evitar cursos que não estejam compatíveis com as diretrizes do MEC, sejam elas de Bioquímica ou de Engenharia Bioquímica! Estar em dia com essas diretrizes é o mínimo que um curso de qualidade deve ter, não é?
Nesse texto, foram analisadas as grades curriculares de Engenharia de Bioprocessos (UFPR, UFRJ, UTFPR, Unesp, UFSJ), as grades curriculares de Engenharia Bioquímica (UERGS, USP-Lorena) e grades curriculares de Engenharia Química (UFRJ, UFPR, USP e UFV)

 

 

 

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O movimento Bioquímica Brasil foi fundado em 2014 por egressos e estudantes dos cursos de Bioquímica.

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