Novas técnicas ampliam o espectro de transgênicos
Na última semana, uma notícia veiculada no site da UOL anunciava que, 20 anos após a aprovação dos transgênicos pela CTNBio, a produção agrícola do Brasil, em sua quase totalidade adota a tecnologia, citando a cultura de soja (92%), milho (87%) e algodão (94%), que totalizam 53 milhões de hectares plantados. Diante desse cenário é preciso encarar que a tecnologia já está instalada no país e procurar, então, maneiras de melhorá-la.
Atualmente, a técnica utilizada para o desenvolvimento dessas plantas é o DNA recombinante, que consiste na transferência de genes entre espécies, em laboratório. A técnica é eficiente, mas demanda bastante trabalho e necessita de grande número de plantas nos experimentos. Além disso, grande parte dos transgênicos produzidos geram benefícios só aos produtores, já que os genes trabalhados são de resistência a herbicidas ou insetos. No contexto de melhorar a tecnologia, surgem as técnicas inovadoras de melhoramento de precisão (Timps), que permitem alterações pontuais no genoma para desligar, aumentar ou diminuir a expressão de um gene, sendo a mais promissora dessas técnicas o sistema Crispr.
Figura 2: Esquema explicativo da técnica de Crispr. Fonte: http://www.njsta.org/news/crispr-in-the-classroom-by-simon-levien
O sistema Crispr (Grupos de Repetições Palindrômicas Curtas Regularmente Espaçadas) consiste em um mecanismo de defesa natural de bactérias que foi adaptado em laboratório para edição gênica, agindo em conjunto com a classe de proteínas Cas. Assim, a técnica se utiliza de um RNA guia, que direciona a proteína Cas9 a um sítio específico, onde elas promovem a clivagem da sequência e consequente ativação do sistema de reparo celular, que pode inativar o gene em questão. Essa é uma técnica mais simples, rápida e precisa quando comparada com as técnicas de DNA recombinante usadas atualmente e é realizada na própria planta de interesse, não envolvendo a transferência de genes. Esse último fato traz esperança aos pesquisadores, já que essas plantas podem não ser classificadas como transgênicas e então teriam um processo de testes e liberação com menos percalços. Ainda é possível pensar na expansão dos genes estudados, modificando também genes de interesse para os consumidores e não apenas para os produtores.
Mostrando a aplicação dessa nova técnica, esse ano foi publicado na revista Plant Biotechnology Journal um estudo de um grupo de espanhóis e americanos que mostra que através da utilização de Crispr foi possível modificar 35 de 45 genes de uma variedade de trigo, o que diminuiu em 85% a reação alérgica do organismo ao glúten. A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia também já utiliza o Crispr na busca de variedades de soja com produção de óleos com maior teor de ácido oleico, que são mais saudáveis para a alimentação e podem ser de interesse das indústrias cosméticas por serem mais emoliente. Ainda existem outros estudos sobre a soja que buscam inativar proteínas inibidoras de tripsina, que provocam gases e tornam o processo de digestão mais difícil.
Levando em conta o cenário apresentado na agricultura é inegável a necessidade dessas pesquisas e do aprimoramento dessas técnicas, o que, por vezes, é bastante incentivado pela comunidade científica. Porém, o assunto ainda é bastante controverso e divide opiniões da população em geral, o que interfere na liberação e amplo consumo desses produtos.
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