O Bioquímico nas análises ambientais e controle de qualidade analítico

por | maio 9, 2017

Nathália Rezende Cristaldo, Bioquímica formada pela primeira turma da UEM (2011-2014). Atualmente trabalha no Laboratório Ambientale Análises Ambientais e de Alimentos onde começou como estagiária e hoje colabora diretamente com os gerentes e diretor da empresa na área de gestão da técnica e da qualidade.
     
(Bioquímica Brasil) Como foi sua escolha do curso? Quando você entrou você já tinha noção que era diferente de farmácia e de biotecnologia? Você sabia que o bacharel em bioquímica é considerado um profissional da química, capaz de ir além da pesquisa básica e da biotecnologia, com vários outros campos de atuação?
Bom, a escolha do curso foi aleatória, pois se tratava de um curso novo na UEM e eu não sabia o que queria fazer da vida.
Quando passei no vestibular, a idéia que tinha que o curso era voltado mais para a área biológica do que a química, o que foi totalmente desfeito logo no primeiro ano com as matérias de química geral, química inorgânica, química orgânica, físico-química, etc. Sabia que não tinha nada a ver com farmácia, mas era “interligado” com a biotecnologia.
Descobri que o bacharel em bioquímica é considerado um profissional da química capaz de ir além de vários outros campos de atuação, quando durante a faculdade passei a me perguntar o que o conhecimento adquirido nas aulas me diferenciava de outros profissionais, como o engenheiro químico, o próprio químico e o biólogo. Assim percebi o quanto o bioquímico pode influenciar em todas essas áreas com uma visão única, não só relacionada ao processo (substrato/produto) e as máquinas, mas sim a vida do microrganismo e seu metabolismo ali presentes.
- Nos conte como foi sua trajetória acadêmica e profissional até aqui?
Passei no vestibular no final do terceiro ano do ensino médio. Entrei na faculdade com 17 anos com o seguinte pensamento: vou fazer este curso, até onde eu li parece ser um curso interessante (visto que era a primeira turma da UEM e não havia profissionais da área para obter mais informações), caso não me encontre, presto vestibular novamente. Este pensamento durou até o terceiro ano, quando realmente começaram as matérias específicas de bioquímica e a paixão começou. Naquele momento, parecia que tudo o que havia estudado começava a fazer sentido e que nada é por acaso, está tudo interligado. Assim, terminei a faculdade e por uma feliz oportunidade, recebi uma proposta de trabalho no mesmo local onde havia feito o estágio obrigatório e onde estou até hoje. Neste período após a faculdade, fiz uma pós-graduação em análise ambiental e estou cursando outra na área de gestão da qualidade.
- Você poderia fazer uma breve descrição da sua rotina (dia-a-dia) de trabalho? No que difere o ambiente de trabalho nesta área do ambiente de trabalho acadêmico (universitário)?
O meu dia inicia-se às 07:15 h quando entro no laboratório. Primeiramente faço uma análise do setor saneamento/efluentes (o qual sou responsável junto com o gerente técnico) para ver como estão os andamentos dos ensaios e a rotina dos outros analistas. Feito isso, faço a liberação dos resultados analíticos em nosso sistema, respondo e-mails e dou suporte ao setor da qualidade na parte de gestão qualidade/documental, pois como somos laboratório acreditado pela ABNT NBR ISO/IEC 17025:2005, a burocracia é singular.
Esta área ao qual trabalho é totalmente diferente do ambiente acadêmico, pois como somos prestadores de serviço, trabalhamos com metas diárias, passamos por auditorias e temos que ter um controle da qualidade analítica satisfatório. Somos responsáveis por cada resultado que entregamos aos nossos clientes, visto que este influencia diretamente no processo das empresas.
- Como você aplica os conhecimentos adquiridos no curso no seu dia a dia de trabalho?
Todos os dias a bioquímica se faz presente e o curso por abranger diversas áreas é fundamental para este mercado. Como nossa base é realizar ensaios analíticos, temos que compreender sobre vidrarias e aparelhos laboratoriais, reações químicas e preparação de soluções, na área de microbiologia, preparação de meios de cultura e reconhecer os microrganismos que ali crescem. Sem contar que trabalhamos com empresas de diversos ramos, como alimentício, consultorias ambientais, biodiesel, abatedouros e cada uma têm o seu processo interno. Então, quando o cliente questiona é necessário ter uma noção de sua metodologia para entender de onde possa estar vindo esta alteração.
- O que te fez abrir os olhos para esta área sair da pesquisa básica?Você acha importante realizar estágio fora da área acadêmica para auxiliar na escolha de uma carreira dentro da profissão de bioquímico?
O que mais me chamou atenção nesta área fora da pesquisa básica foi à possibilidade de entrar num mercado onde você possui um sistema de gestão próprio e lida com problemas diários de diferentes áreas, tendo sempre que estar se atualizando para resolvê-los. Quando você ajuda um cliente, além de dar credibilidade à empresa, faz o seu nome crescer também.
Embora a profissão de bioquímico ainda seja nova no Brasil e não há muitas vagas disponíveis, realizar estágios fora da área acadêmica é fundamental para conhecer novos universos e aplicar o que foi estudado, levando em conta o ponto de vista de um bioquímico. Claro, além da divulgação do curso.
- No que difere o seu atual cargo como um CLT de um bolsista em termos de responsabilidades, atribuições, direitos e deveres?
Quando trabalhamos como um CLT as responsabilidades devem ser as mesmas de um bolsista, dar o máximo de si para que seu trabalho seja o melhor possível buscando sempre manter a confiabilidade dos dados e estar se atualizando com a área envolvida. As atribuições se diferem no âmbito dos problemas que surgem, pois refletem diretamente em pessoas e empresas terceiras os quais podem estar sujeitas a receberem penalidades, muitas vezes com perda financeira. Diferentemente do bolsista, temos carga horária para cumprir e direito a benefícios como assiduidade, insalubridade, vale alimentação/transporte, seguro desemprego entre outros.
- Como surgiu esta oportunidade de emprego para você? Você fez estágio nessa área antes, enviou email diretamente para eles, contou com algum recrutador ou indicação de professores/amigos?
Entrei no Laboratório Ambientale em 2014, como estagiária, ao ver um anúncio em site de oferta de empregos, visto que estava pesquisando alguma empresa para cumprir o estágio obrigatório (como se tratava de um curso novo, estava bem difícil encontrar alguma empresa que aceitasse nossa formação). Na verdade fiz duas entrevistas. A primeira era para o setor de microbiologia e não fui escolhida. Duas semanas depois, foi aberta uma vaga para o setor de físico-química, então a responsável entrou em contato e disse que havia gostado do meu perfil e me deu a chance de fazer a entrevista novamente. Desta vez fui escolhida e comecei a atuar no laboratório de análise ambiental e de alimentos.
- Que características técnicas (disciplinas) e humanísticas você acha que o bioquímico deve desenvolver para trabalhar nessa área?
Para trabalhar nesta área o bioquímico deve ter atuar um pouco como químico e biólogo e estar sempre estudando e atualizando. Diferentemente de um mestrado ou doutorado o forte não é a pesquisa, são as legislações e metodologias (muitas vezes em inglês) estão sempre presentes e devem ser compreendidas e seguidas a risca. Estatística também é muito importante, pois está diretamente relacionada com o controle de qualidade analítico.
- Percebe vantagens e/ou desvantagens de se ter a formação superior em Bioquímica para esta atuação profissional?
Um laboratório de análises ambientais e de alimentos é dividido em dois, quando se trata do setor analítico: microbiologia e físico-química. Quando entrei na Ambientale foi para trabalhar no setor físico-químico. Aprendi muito lá, visto que pela abrangência do curso, este segmento não foi estudado, mas em relação à parte de manuseio de itens de laboratório não senti dificuldades (como por exemplo: preparação de reagentes, titulação, gravimetria, etc).
 Houve um período no qual o setor de microbiologia precisava de mão de obra por aumento de demanda, foi quando fui escolhida para ajudar devido minha formação e prática nas aulas da graduação.  
Foram nestas e outras experiências que percebi a vantagem da formação superior em Bioquímica e de sua abrangência nas áreas do mercado de trabalho.
- Com base na sua experiência, que conselhos você daria ao atual aluno de bioquímica?
Eu aconselharia a agarrar todas as boas oportunidades que aparecerem. Mesmo que não seja da área de preferência do aluno, pois todo conhecimento é válido e você pode utilizá-lo de diversas formas. Nunca deixar de se atualizar com notícias, palestras, vídeos, cursos específicos e de outro idioma. Faça sempre e em todas as situações o seu melhor.
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O movimento Bioquímica Brasil foi fundado em 2014 por egressos e estudantes dos cursos de Bioquímica.

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