O Bioquímico no LANAGRO-Ministério da Agricultura e Pecuária
A Fernanda Gomes Cardoso, Bioquímica pela UFV (2004-2008), Mestre em Bioquímica pela USP-Ribeirão Preto e Doutoranda pela USP-Ribeirão, atualmente é técnica de Laboratório, função Analista, concursada no Lanagro, unidade do MAPA, Ministério da Agricultura e Pecuária.
- (Bioquímica Brasil) Fernanda, você poderia nos contar um pouco mais sobre sua trajetória científica e profissional da graduação até hoje?
(Fernanda) Me graduei em Bacharelado em Bioquímica pela UFV em janeiro de 2009. Logo após, me mudei para Ribeirão Preto e iniciei minha pós-graduação em Bioquímica pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP). Finalizei o mestrado em 2011 e, em seguida iniciei o doutorado no mesmo programa. Em maio 2014, quando faltava um ano para finalizar o doutorado, resolvi prestar o concurso do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) para o cargo de técnico de laboratório e fui aprovada. Em novembro de 2014 me mudei para Campinas, e atualmente trabalho no Lanagro/SP, na Unidade de Sanidade Aviária, realizando diagnóstico na área de Virologia Molecular. Ao mesmo tempo, eu estou finalizando o meu doutorado, o qual precisou ser prorrogado por alguns meses devido à distância, mas está na fase de finalização.
- Para o bioquímico é fácil saber o que é a Embrapa e verificar a inserção da bioquímica nela. Mas o que seria o Lanagro? O que o diferencia da Embrapa? Como a bioquímica e biotecnologia estão inseridos no contexto do Lanagro e Quais são os principais projetos nessa área?
O MAPA é um órgão que faz parte da estrutura interna da União, cujo objetivo é regulamentar e normatizar os serviços vinculados ao setor agropecuário, além de fomentar o agronegócio no Brasil e responder pela gestão das políticas públicas do setor.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) é uma empresa pública vinculada à estrutura do MAPA, a qual realiza pesquisas relacionadas à agricultura e à agroindústria.
Os Laboratórios Nacionais Agropecuários (Lanagros) são unidades descentralizadas do MAPA que realizam e controlam análises e ensaios laboratoriais; desenvolvem e validam metodologias; produzem e mantêm materiais de referência; cuidam do sistema de gestão de qualidade e manutenção da biossegurança. Existem 6 unidades laboratoriais, localizadas nos estados de PE, GO, RS, SP, PA e MG.
A estrutura interna do Lanagro/SP, local onde trabalho, se divide em diferentes unidades, as quais realizam:
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Análises físico-químicas de alimentos de origem animal (como, por exemplo, avaliação da composição dos alimentos, determinação de fraudes) e análise de água industrial;
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Análises físico-químicas de alimentos para animais (como determinação de micotoxinas e micronutrientes);
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Pesquisa de subprodutos de origem animal em alimentos para ruminantes, com o intuito de prevenir a encefalopatia espongiforme bovina (EEB);
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Análises físico-químicas de contaminantes inorgânicos em alimentos; - Controle de vacinas antirrábicas;
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Análises microbiológicas em alimentos e água;
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Diagnóstico de doenças aviárias (salmoneloses, micoplasmoses, doença de Newcastle e influenza aviária) e controle de vacinas aviárias. As pesquisas na Unidade de Sanidade Aviária consistem no desenvolvimento e validação de novos métodos de ensaio, incluindo métodos moleculares, fornecendo subsídios para a realização de análises epidemiológicas relacionadas a vírus e bactérias.
- Como você aplica os conhecimentos aprendidos na graduação em bioquímica no dia a dia do Lanagro? No que difere o seu dia a dia para o mundo da pesquisa universitária?
Estou locada na Unidade de Sanidade Aviária, no laboratório de Biologia Molecular, realizando diagnóstico da área de Virologia em amostras de aves. Utilizo técnicas de Biologia Molecular, com as quais tive contato durante a iniciação científica e a pós-graduação, como extração de ácidos nucléicos, PCR (convencional e em tempo real) e sequenciamento de DNA.
No Lanagro, com o cargo de técnica de laboratório com função de analista, meu trabalho não é fazer pesquisa. Os testes que aplico para o diagnóstico de doenças foram previamente padronizados e validados e todos os procedimentos seguem as normas de qualidade da ABNT NBR ISO/IEC 17025:2005 (Requisitos gerais para a competência de laboratórios de ensaio e calibração). Durante a rotina de trabalho, as funções de cada colaborador estão bem divididas e definidas. Já na Universidade, a rotina consiste em experimentos (e não, “testes”), que variam de acordo com os resultados obtidos. Dessa forma, o pesquisador tem maior liberdade para desenvolver novos experimentos, com tentativas e erros, até atingir os resultados desejados
- Existem oportunidades para atuar sem ser concursado no Lanagro, como bolsista DTI, Rhae ou como terceirizado em nível bacharel, mestre ou pós-doutor?
No Lanagro existem tanto bolsistas (CNPq, de diferentes níveis) quanto funcionários terceirizados. O concurso do MAPA de 2014 visava à substituição de alguns dos cargos terceirizados, como os de técnico e de auxiliar de laboratório. Os setores que mantiveram serviços terceirizados foram os administrativos e o Biotério. Os bolsistas são selecionados, por indicação, através de um contato entre os responsáveis técnicos e professores universitários, de acordo com a necessidade. Eu desconheço processos seletivos abertos para a seleção de bolsistas no Lanagro, pelo menos no meu setor. Minha dica para os interessados em ser bolsistas do Lanagro é entrar em contato com o responsável pela Unidade de interesse, ver a disponibilidade de projetos relacionados à sua área e enviar currículo. Já os serviços terceirizados são divulgados pelas próprias empresas contratantes (vencedoras de processos de licitação).
- No seu caso, estava explícito no edital do concurso o curso de Bioquímica? Como você vê a questão dos concursos públicos e o profissional bioquímico?
Não estava. O requisito mínimo necessário para o cargo de técnico de laboratório nesse concurso era de “Ensino Médio Técnico em Biotecnologia ou Análises Clínicas ou Metrologia ou Química ou Agroindústria ou Alimentos ou Farmácia ou Viticultura e Enologia ou Agropecuária e registro no respectivo conselho de fiscalização do exercício profissional”. No meu caso, prestei o concurso sem saber se o diploma de Bacharel em Bioquímica seria aceito para a posse. Caso não fosse, eu iria precisar entrar com uma liminar judicial e tentar a posse através de um mandado de segurança. Como a minha formação era superior àquela exigida no edital e o registro no CRQ nos fornece todos os atributos necessários para o desenvolvimento das atividades descritas no edital, a minha posse foi deferida. Além de mim, outras duas ex-alunas da Bioquímica-UFV foram aprovadas em Campinas. E, recentemente, fiquei sabendo de uma quarta ex-aluna que entrou em exercício no Lanagro de Porto Alegre-RS, através desse mesmo concurso. Apesar das diversas atribuições, infelizmente, o curso de Bioquímica ainda é pouco lembrado nos concursos públicos. Mas, desde o início do curso até hoje, percebi que houve um aumento no reconhecimento do profissional bioquímico, principalmente para a área acadêmica. Além disso, o fato de podermos nos credenciar ao CRQ aumenta nossas oportunidades de inserção no mercado de trabalho fora da Universidade.
- Como você vê a importância do bioquímico formado para as novas gerações de bioquímicos? Com relação a sua experiência, que conselho daria aos futuros Bioquímicos?
A grade disciplinar do curso de Bioquímica é bastante ampla e completa, tanto para a área biológica quanto para a de exatas. Sendo assim, os profissionais bioquímicos estão espalhados por diversas áreas, seja na Universidade ou fora dela. É muito importante para os estudantes estender seus conhecimentos para diferentes ramos, buscando sempre novas oportunidades e novas experiências. Após uma definição do campo que se deseja seguir (seja como pesquisador ou empreendedor), o importante é se esforçar e se dedicar. “O segredo do sucesso não é fazer o que se gosta, mas sim gostar do que se faz”. (Cecília Meireles)
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