Um breve histórico da Bioinformática e sua relevância social
O ser humano sempre esteve em constante interação com o meio em que habita, seja na utilização direta de recursos e elementos da natureza ou na elaboração de ferramentas e processo que facilitassem sua sobrevivência. Com o passar do tempo, seu papel de agente transformador cresceu exponencialmente a ponto de trazer grandes impactos não só no meio ambiente, mas também a moldar conceitos e a dinâmica social de sua própria espécie. As duas primeiras revoluções industriais são marcas profundas desse impacto, o que não se sabia, porém, era que uma terceira revolução traria tantas mudanças e um leque enorme de possibilidades que são exploradas e desenvolvidas até os dias atuais. A chamada Era Digital baseia-se no uso de computadores e softwares que armazenam e processam dados e informações em um sistema cada vez mais complexo e autônomo, auxiliando na resolução de problemas nos mais variados campos, social, econômico e principalmente o científico.
Nesse cenário, o amplo desenvolvimento da Biologia Molecular a partir da década de 50, com a descoberta da estrutura molecular do DNA, trouxe, anos mais tarde, a necessidade de novas tecnologias que trabalhassem com a imensa quantidade de dados relativos ao mapeamento e sequenciamento genético. Como solução, emerge a bioinformática, a fim de superar essas fronteiras da ciência fundamentando-se no desenvolvimento de novas abordagens capazes de promover a análise e a apresentação de dados biológicos, bem como garantir a investigação de novos métodos para a resolução de perguntas complexas. Além da Genômica, essa ciência contribuiu com o aperfeiçoamento de estudos em outras áreas do conhecimento científico, como a Proteômica e a Dinâmica Molecular.
Logo, pode-se definir a bioinformática como uma área de pesquisa na qual são aplicadas técnicas de computação, estatística e informática para lidar com dados da biologia na resolução de problemas. Porém, o grande desafio reside na interpretação dos dados a serem utilizados e dos resultados obtidos, de forma que o profissional necessita de um conhecimento multidisciplinar (química, física, biologia, computação) e abstração. Atualmente essa ciência tem-se tornado cada vez mais precisa com a implementação do machine learning, uma subárea da inteligência computacional baseada na utilização de dados e testes para refinar como um algoritmo fará uma análise utilizando o mundo de dados coletados pela ciência de dados, automatizando e simplificando o processo de obtenção de resultados.
Figura 1: Associação de conhecimentos entre biologia molecular e informática.
Fonte: ARAÚJO et al. (2008, p. 146)
Dentre as principais aplicações da bioinformática, destacam-se a predição funcional de proteínas, assim como sua localização subcelular, a identificação de elementos transponíveis no genoma, a elucidação das bases moleculares envolvidas em importantes eventos celulares, o desenvolvimento in silico de fármacos e vacinas (vacinologia reversa), além de contribuir no estudo de tratamentos médicos personalizáveis. No Brasil, o bioinformata pode atuar em grandes hospitais, laboratórios de análises clínicas, centros de pesquisa e na indústria de fármacos, bioenergia, agronomia e de alimentos. A redução de tempo e recursos utilizados em experimentos de bancada e modelos in vivo contribuem para que esta área seja cada vez mais valorizada.
O futuro da bioinformática está atrelado ao desenvolvimento da computação e da capacidade de processamento de dados, mas sem dúvidas, se mostra muito promissor. A habilidade e conhecimento multidisciplinar do bioquímico, além de bases sólidas em hard science, permitem que esse perito se aventure nesse campo científico e inovador. Cabe a este, desbravar novos caminhos e buscar especializações acadêmicas e técnicas que o auxiliem na viagem ao mundo da computação e data science. Isso, sem perder o senso crítico e questionador que acompanha um profissional formado em bioquímica.
Referências:
JAMIL, George Leal; NEVES, Jorge Tadeu de Ramos. A era da informação: considerações sobre o desenvolvimento das tecnologias da informação. Perspectivas em Ciência da Informação, [S.l.], v. 5, n. 1, p. 41-53, nov. 2007.
PITASSI, Claudio; GONCALVES, Antonio Augusto; MORENO JUNIOR, Valter de Assis. Fatores que influenciam a adoção de ferramentas de TIC nos experimentos de bioinformática de organizações biofarmacêuticas. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 19, n. 1, p. 257-268, jan. 2014.
ARAÚJO, Nilberto Dias de et al. A era da Bioinformática: Seu potencial e suas implicações para as ciências da saúde. Estudos de Biologia, [S.l.], v. 30, n. 70/72, p. 143-148, nov. 2008.
Autor: Marcos Vinícius G. Antunes, graduando em Bioquímica pela Universidade Federal de São João Del-Rey, membro do Centro Acadêmico de Bioquímica da UFSJ e do PET-BQI UFSJ.
E-mail: marcosvinicius0898@gmail.com
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