O Bioquímico na indústria: P&D em Bioquímica clínica e diagnóstico molecular
Bruna Raphaela Sousa Viglione, Bioquímica formada pela UFSJ (2008- 2011), mestre em Biologia Celular pela UFMG, atualmente trabalha como pesquisadora na Labtest Diagnóstica desenvolvendo kits diagnóstico em Bioquímica e Turbidimetria.
- (Bioquímica Brasil) Como foi sua escolha do curso? Quando você entrou você já tinha noção que era diferente de farmácia e de biotecnologia? Você sabia que o bacharel em bioquímica é considerado um profissional da química, capaz de ir além da pesquisa básica e da biotecnologia, com vários outros campos de atuação?
Quando prestei vestibular busquei cursos que estavam relacionados a química. Neste período foi instalado um Campus da UFSJ em Divinópolis. Na época não conhecia muito bem o curso de Bioquímica, mas a área de conhecimento era do meu interesse. Para mim foi mais claro diferenciar os cursos de Bioquímica e Farmácia porque convivíamos muito com os alunos do curso de Farmácia na UFSJ. Mas entender o papel do Bioquímico na indústria foi mais demorado. Apesar do empenho dos professores em demonstrar o papel desse profissional na indústria, eu estava muito envolvida em projetos de pesquisa.
- Nos conte como foi sua trajetória acadêmica e profissional até aqui?
Durante a graduação sempre estive envolvida em projetos de pesquisa. No segundo semestre iniciei um projeto no Laboratório de química de proteínas onde tive a oportunidade de iniciar na pesquisa, principalmente com bioquímica de proteínas e microbiologia avaliando o potencial de lipases extraídas de fungos amazônicos na produção de Biodiesel. No mestrado concentrei meus estudos na Biologia Celular e Molecular para entender um pouco a sinalização celular na diferenciação de células-tronco. Assim que finalizei o mestrado, surgiu a oportunidade para participar de um projeto de pesquisa com bolsa RHAE – CNPq no CDICT (Centro de Desenvolvimento, Inovação, Ciência e Tecnologia) pertencente ao grupo Labtest Diagnóstica. Neste período participei do desenvolvimento de produtos para diagnóstico em análise clínicas na linha de Turbidimentria e Bioquímica. Ao fim do contrato com o CNPq fui efetivada e hoje sou pesquisadora com regime celetista na Labtest trabalhando com as mesmas linhas de produto.
- Você poderia fazer uma breve descrição da sua rotina (dia-a-dia) de trabalho? No que difere o ambiente de trabalho nesta área do ambiente de trabalho acadêmico (universitário)?
O trabalho como pesquisador na indústria é similar ao pesquisador na Universidade. O projeto é criado de acordo com as demandas da empresa e mercado. Fazemos revisão bibliográfica, desenvolvemos formulações, produzimos a documentação para registro do produto na ANVISA, damos suporte a outros setores da empresa, quando necessário, etc.
Na minha opinião, a maior diferença entre a pesquisa na universidade e na indústria são os objetivos. Na indústria o objetivo principal é desenvolver um produto que atenda aos requisitos previamente definidos. Na universidade o objetivo é desenvolver conhecimento, assim o pesquisador pode mudar o foco do estudo no decorrer do projeto de acordo com os resultados encontrados. Essa flexibilidade só é possível na indústria se houver interesse comercial.
- Como você aplica os conhecimentos adquiridos no curso no seu dia a dia de trabalho?
O curso de Bioquímica nos dá a base teórica e prática para iniciarmos qualquer projeto de pesquisa, ou pelo menos onde encontrar auxílio, portanto, todo o tempo aplico os conhecimentos que adquiri nas universidades onde estive. No desenvolvimento de Kits diagnóstico estou em busca de novas metodologias, processos, desenvolvo e elaboro formulações, realizo os testes de caracterização do produto. Para isso, a base dos conhecimentos bioquímicos sempre me auxiliam, como bioquímica de proteínas, enzimologia, imunologia, química geral, etc.
- O que te fez abrir os olhos para esta área sair da pesquisa básica? Você acha importante realizar estágio fora da área acadêmica para auxiliar na escolha de uma carreira dentro da profissão de bioquímico?
Como sempre estive envolvida com projetos acadêmicos, comecei a sentir curiosidade de conhecer o trabalho na indústria. Na verdade, fiquei receosa de não ter feito a melhor escolha para mim e de não ter me dado a chance de conhecer outras possibilidades. Quando surgiu a oportunidade de trabalhar no CDICT resolvi arriscar, poderia dar certo ou não. Se essa não fosse a melhor escolha, poderia voltar para a academia e fazer o doutorado. Mas o caminho contrário parecia mais difícil, ou seja, fazer o doutorado e só depois ir para a indústria.
Definir sua carreira não é uma decisão fácil e conhecer as opções pode mostrar o melhor caminho a seguir. Com isso, acredito que o estágio em empresas e indústrias, além do da universidade, seja muito importante para o profissional Bioquímico.
- No que difere o seu atual cargo como um CLT de um bolsista em termos de responsabilidades, atribuições, direitos e deveres?
As responsabilidades, atribuições e deveres de um bolsista na Labtest são as mesmas de um funcionário celetista, inclusive com relação ao horário de trabalho e às férias. Já os direitos são diferentes, pois não são resguardados pelas leis trabalhistas, assim não recebem 13° salário, seguro desemprego, FGTS, etc.
- Como surgiu esta oportunidade de emprego para você? Você fez estágio nessa área antes, enviou e-mail diretamente para eles, contou com algum recrutador ou indicação de professores/amigos?
Na UFSJ foi possível utilizar a iniciação científica no trabalho de conclusão de curso e com isso, não foi necessário fazer o estágio. Assim, não fiz nenhum tipo de estágio na indústria. Na UFMG, quando fazia o mestrado, conheci um pesquisador do CDICT que havia sido liberado para fazer seu mestrado. Foi através deste colega que tomei conhecimento sobre a seleção de um bolsista mestre. Ao final do contrato com o CNPq, fui efetivada em regime celetista.
- Que características técnicas (disciplinas) e humanísticas você acha que o bioquímico deve desenvolver para trabalhar nessa área?
Como estou trabalhando diretamente com produtos para análises clinicas, sinto falta de algumas disciplinas como hematologia e patologia clínica. No entanto, estas disciplinas apenas facilitariam meu entendimento. Mas o importante é se dedicar em todas as disciplinas, principalmente as bases do curso. Inglês e espanhol são sempre diferenciais.
- Percebe vantagens e/ou desvantagens de se ter a formação superior em Bioquímica para esta atuação profissional?
Não sei se desvantagem é a palavra correta, mas trabalho com pessoas que ainda acreditam que Bioquímica é a analises clinicas da Farmácia e para mostrar o nosso diferencial estou sempre sendo colocada a prova. Acho que a principal vantagem para a minha função de pesquisadora é ter uma base consolidada na pesquisa.
- Com base na sua experiência, que conselhos você daria ao atual aluno de bioquímica?
Para o aluno de Bioquímica: dedique-se, aproveite todas as oportunidades que forem oferecidas, participe de congressos e palestras, invista em outras línguas. E faça o possível por um estágio em empresas e indústrias. A graduação é o melhor momento para conhecer e avaliar as possibilidades na carreira.
Compartilhe este artigo:
[ssba-buttons]
0 comentários