O Bioquímico na indústria: P&D em Biorrefinarias

por | set 3, 2017

Germano Siqueira, Bioquímico pela UFV (2004- 2008), mestre e doutor pela USP-Lorena, atualmente é pesquisador na área de Biorrefinarias da Fíbria Celulose.

- (Bioquimica Brasil) Como foi sua escolha do curso? Quando você entrou você já tinha noção que era diferente de farmácia e de biotecnologia? Você sabia que o bacharel em bioquímica é considerado um profissional da química, capaz de ir além da pesquisa básica e da biotecnologia, com vários outros campos de atuação?

Quando estava no Ensino Médio e escolhi o curso de Bioquímica como uma das minhas opções, não tinha ideia de como seria. O curso ainda era novo (prestei vestibular no final de 2003) e não se falava muito sobre ele. Eu estava prestando o vestibular seriado para a UFV, e dentre os cursos oferecidos, o curso de Bioquímica foi o que mais me chamou a atenção. Naquele momento eu não tinha ideia da grande área do conhecimento que a Bioquímica engloba e da possibilidade de atuação em setores tão distintos. Minha outra opção de curso no vestibular era farmácia, mas bastou cursar o primeiro semestre de Bioquímica para ver que era realmente o que eu gostava.

- Nos conte como foi sua trajetória acadêmica e profissional até aqui?

A primeira disciplina relacionada ao curso de Bioquímica foi a BQI 104 (Áreas de atuação do Bacharel em Bioquímica), ministrada pelo Prof. Sebastião Tavares de Rezende. Tive a oportunidade de fazer um trabalho sobre técnicas de purificação de proteínas, que despertou meu interesse e (inconscientemente naquela ocasião) definiu toda a minha trajetória. No segundo semestre eu procurei o Prof. Sebastião manifestando meu interesse em fazer Iniciação Científica com ele, a qual iniciaria no terceiro semestre do curso. Trabalhei com isolamento e seleção de microrganismos produtores de enzimas hidrolíticas, e com a purificação das mesmas.

  Além da Enzimologia, outra área que me fascina é a Imunologia. Por essa razão, iniciei um curto estágio com o Prof. Sérgio de Paula, trabalhando com proteínas do vírus da dengue. Mas as enzimas sempre falaram mais alto, e acabei voltando para a área.

 Nos dois últimos anos da graduação, trabalhei com o Prof. Marcos Rogério Tótola, na identificação de microrganismos produtores de lipases, visando à produção de biodiesel via catálise enzimática. Esse estágio foi fundamental para que eu compreendesse de fato o papel das enzimas em processos biotecnológicos. Nesse período, cursei a disciplina optativa TAL 415, ministrada pelo Prof. Ismael Mancilha, que me falou sobre o curso de pós-Graduação na Escola de Engenharia de Lorena (que havia se tornado um campus da USP), onde eu acabaria passando a maior parte da minha vida acadêmica.

  Durante a graduação, também fui membro da Tecnomol, Empresa Júnior de Bioquímica. Apesar de estar dando os primeiros passos como empresa (fui parte da primeira gestão da empresa), serviu para que eu despertasse meu interesse por atividades fora da academia, que seria importante para minha trajetória.

  Fiz o Mestrado e o Doutorado com a Prof. Adriane Milagres, com quem aprendi muito sobre enzimas em processos de conversão de biomassas vegetais. Também tive a oportunidade de interagir com o Prof. André Ferraz, que me auxiliou na construção do conhecimento em Química de Biomassa. Com esses dois professores, buscamos compreender a limitação que a lignina de bagaço de cana tratado quimicamente causa na hidrólise enzimática da celulose.

  Durante o Doutorado, tive a oportunidade de trabalhar como consultor de tecnologias enzimáticas para a empresa Nutrenzi, trabalhando em projetos para desenvolver produtos contendo enzimas em suas formulações.

  Durante o pós-Doutorado, comecei a trabalhar com tratamento enzimático de polpas celulósicas para produção de nanocelulose, com o Prof. Valdeir Arantes, projeto no qual trabalhei por 18 meses.

Em março de 2017 comecei a trabalhar na Fibria, como Pesquisador de Biorrefinaria.

- Você poderia fazer uma breve descrição da sua rotina (dia-a-dia) de trabalho? No que difere o ambiente de trabalho nesta área do ambiente de trabalho acadêmico (universitário)?

Minha rotina é muito parecida com a de um Professor na Universidade (considerando a pesquisa). Faço acompanhamento da literatura e idealizo experimentos, que são executados pela equipe de laboratório. A principal diferença é que a pesquisa não é focada em publicações, e sim na melhoria de processos e produtos.

- Como você aplica os conhecimentos adquiridos no curso no seu dia a dia de trabalho?

O curso de Bioquímica tem um caráter multidisciplinar. Estudamos a fundo as moléculas que compõe os sistemas biológicos, e compreendemos bem a química dos processos aos quais essas são submetidas. Para reproduzir esses conceitos em processos bioquímicos e biotecnológicos industriais, não há profissional mais capacitado, considerando a formação, que o Bioquímico.

- Você acha importante realizar estágio fora da área acadêmica para auxiliar na escolha de uma carreira dentro da profissão de bioquímico?

Certamente. Não realizei estágio em empresas e indústrias, e senti que isso dificultou meu ingresso na indústria. Durante o Mestrado, me inscrevi em algumas vagas e não obtive sucesso. A falta de experiência fora da academia foi um fator limitante.

- No que difere o seu atual cargo como um CLT de um bolsista em termos de responsabilidades, atribuições, direitos e deveres?

As principais diferenças estão nos direitos. A meu ver, as responsabilidades são semelhantes (pelo menos penso que bolsistas deveriam encarar dessa forma), mas o retorno é maior. Apesar de ser um trabalho como outro qualquer, como bolsista é difícil você enxergar isso, uma vez que não se tem nenhum dos benefícios básicos (fundo de garantia, férias, 13º, etc). Depois de trabalhar tanto tempo como bolsista, é muito satisfatório ter tudo isso.

- Como surgiu esta oportunidade de emprego para você? Você fez estágio nessa área antes, enviou email diretamente para eles, contou com algum recrutador ou indicação de professores/amigos?

Durante o pós-Doutorado, tive a oportunidade de interagir com pesquisadores da Fibria. Quando surgiu a vaga, fui informado e participei do processo de seleção.

- Que características técnicas (disciplinas) e humanísticas você acha que o bioquímico deve desenvolver para trabalhar nessa área?

Curiosidade, criatividade, análise crítica da literatura científica, capacidade de trabalhar em equipe e de construir redes de relacionamentos (networking).

- Percebe vantagens e/ou desvantagens de se ter a formação superior em Bioquímica para esta atuação profissional?

Como pesquisador, vejo muitas vantagens de ter essa formação. Como mencionei acima, o Bioquímico possui uma formação multidisciplinar, e isso permite analisar processos bioquímicos e biotecnológicos sob a ótica de diversas áreas do conhecimento. Isso é de grande relevância.

- Com base na sua experiência, que conselhos você daria ao atual aluno de bioquímica?

Considero muito importante a realização de um estágio em empresas e indústrias. Creio que o caminho fica facilitado. Mas também acho importante dar ter uma excelente formação acadêmica. A multidisciplinariedade da Bioquímica só é uma vantagem se o aluno souber tirar proveito dela. Isso é fundamental e é o grande diferencial do profissional Bioquímico.

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O movimento Bioquímica Brasil foi fundado em 2014 por egressos e estudantes dos cursos de Bioquímica.

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